Carlos Alexandre e Rosário Teixeira: Os homens que investigam Sócrates

O ‘superprocurador’ que investigou Sócrates e o juiz que o mandou prender são conhecidos por serem viciados em trabalho e cultivarem o low profile. Há muito que se cruzam na Justiça.

O responsável pela investigação que ‘apanhou’ José Sócrates é viciado em trabalho e um homem de poucas falas, mesmo entre colegas. Jorge Rosário Teixeira é conhecido por ser um técnico de gabinete, mas faz questão de andar no terreno com as polícias para acompanhar passo a passo as buscas e averiguações mais complicadas.

Aos 52 anos, o ‘superprocurador’ é o principal especialista do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) para a área dos crimes financeiros. E tem vivido atolado em investigações difíceis.

Pelas suas mãos passaram casos tão complexos como o BPN – com cerca de 20 inquéritos, que levaram à prisão o banqueiro Oliveira Costa e o advogado social-democrata Duarte Lima –, Monte Branco, que envolve uma rede de lavagem de dinheiro através da Suíça, Operação Furacão e Portucale.

«É um homem muito competente e com uma capacidade de trabalho notável», diz ao SOL o deputado social-democrata Fernando Negrão, que quando dirigia a PJ, no final dos anos 90, o convidou para liderar o departamento de combate à corrupção. Foi aqui, aliás, que teve a sua primeira grande investigação, a do Caso Moderna.

Depois de uma travessia pelo Tribunal de Santiago do Cacém, chegou ao DCIAP pela mão de Cândida Almeida, que assumira a direcção do departamento em 2001. Rosário Teixeira estreia-se com a Operação Furacão e nunca mais deixou de estar inundado em inquéritos.

‘Vive’ praticamente na sede do departamento, na Alexandre Herculano, em Lisboa. É casado com uma médica, de quem tem um filho. «Os colegas diziam que qualquer dia morria à secretária em cima de um processo», recorda ao SOL um procurador.

A capacidade de organização e o rigor com que se dedica às investigações é outra das características que apontam ao procurador, que nasceu em Moçambique e é ferrenho adepto do Sporting. «Na altura, o DCIAP estava um caos porque Cândida Almeida chamava ao departamento todos os processos e ele foi vítima dessa sobrecarga porque era impossível ir a todas», adianta o mesmo procurador.

Juiz workaholic com protecção pessoal

Com a prisão de José Sócrates, Rosário Teixeira cruza-se uma vez mais com o juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), por onde têm de passar todos os detidos em crimes graves que são investigados pelo DCIAP.

O mesmo tinha já acontecido em inúmeros processos pois, até Setembro, este magistrado de 53 anos, que em Julho exigiu três milhões de euros de caução a Ricardo Salgado, era o único juiz no TCIC. Acumulava todos os processos criminais especialmente complicados provenientes do DCIAP. Antes de Sócrates, ordenou há uma semana a prisão de todos os envolvidos no caso dos vistos gold (Operação Labirinto). Antes, foram Oliveira Costa e Duarte Lima.

Ficaram célebres as buscas feitas por Carlos Alexandre e Rosário Teixeira ao ex-presidente da Câmara de Oeiras em 2005. Numa madrugada, os dois foram recebidos por Isaltino Morais, de roupão, que ao ler o mandado de busca exclamou: «E atrevem-se a dizer uma coisa destas a meu respeito». E obrigou os dois magistrados a esperar duas horas até que se arranjasse para darem início às buscas.

Carlos Alexandre também é workaholic . Mesmo de férias não consegue estar mais de três ou quatro dias afastado do tribunal – uma rotina instalada que nem a chegada do juiz João Bártolo, que em Setembro passado veio reforçar o quadro do TCIC, deverá alterar.

O juiz de Mação, que esteve no Tribunal de Sintra antes de assumir a presidência do TCIC, em 2006, é um homem discreto e muda com frequência de telemóvel por receio de estar a ser escutado. Mas a sua exposição mediática é enorme.

Por ter a sua segurança em risco, passou a andar com dois elementos da PSP. Mas já antes fora alvo de ameaças, quando a sua casa foi assaltada e encontrou uma pistola junto às fotografias dos dois filhos menores.

Apesar do low profile, está nas redes sociais desde 2011, quando um grupo de admiradores lhe criou uma página no Facebook, onde lhe elogiam a luta contra a corrupção. E até chegou a circular uma petição pública na internet que pedia Carlos Alexandre à frente da Procuradoria-geral da República.

joana.f.costa@sol.pt

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