Twin Peaks: vamos voltar a North Bend

   

Bastaram três frases e a loucura começou. Não era preciso mais. “The cameras have stopped rolling. A key piece of the mystery is revealed. Welcome back* to Twin Peaks.” Stop. não precisamos de mais. Twin Peaks, a série que revolucionou isto tudo no início dos anos 90 (”isto tudo” leia-se a febre das séries que agora existe e nos faz passar horas no sofá de casa) está de volta, 25 anos depois de ter acabado (27 depois de ter começado) – e era tudo o que precisávamos de saber. Claro que qualquer coisa que nos é dada por David Lynch tem de ser assim, de chofre e embrulhada em enigmas. Como aquele plástico a descobrir a cara de Laura Palmer, esse embate a abrir o primeiro episódio e que seria o momento que havia de marcar a televisão para sempre, desde os Sopranos, a Lost até Game of Thrones. Um chuto do melhor que a cultura pop americana tinha para mostrar. E para ficar.

O pálido azul-cinzento a mostrar a morte de Palmer, interpretada por Sheryl Lee, escancarou a caixa de Pandora e fez verter tudo o que que viria aí. Estava morta. Era a vez do agente do FBI, o control freak Dale Cooper (papel de carreira de Kyle MacLachlan que já trazia Blue Velvet e Dune no CV) ganhar protagonismo e começar a contar-nos a história através de um gravador, a falar tudo o que lhe passava pela cabeça com uma secretária que nunca chegaremos a conhecer, apenas o seu nome Diane. O terror psicológico, o drama, o suspense, o medo, começavam aqui.

Tudo ao som da assombrosa música de Angelo Badalamenti, ton-ton, o tema que se liga automaticamente ao nosso subconsciente e nos remete de imediato para essa cidade ficcional que é Twin Peaks, em Washignton, ou que mais não é do que Snoqualmie, e a sua cascata a cair naquele rio, e North Bend, onde verdadeiramente é filmada a série. A seguir àquelas três frases, é-nos dada uma lista com 217 nomes, todos por ali fora na página oficial do Facebook a anunciar quem vai entrar na nova série. Aquele Welcome back com asterisco é para os regressados Kyle MacLachlan, Sheryl Lee, Sherilyn Fenn ou David Duchovny. Depois há surpresas tão boas como Naomi Watts, Michael Cera, Monica Bellucci, Amanda Seyfried, Ashley Judd, Jennifer Jason Leigh, Laura Dern, Jim Belushi, Trent Rezno ou Eddie Vedder. Chega?

O anúncio de Lynch (que produz a série ao lado de Mark Frost, que escreveu a “Balada de Hill Street”) não é mais do que um aviso. Depois de 140 dias de filmagens em Washington e Los Angeles, o cineasta decidiu avisar que já está tudo pronto para a nova temporada de Twin Peaks – “The cameras have stopped rolling”, lembram-se?. Regressa em 2017 no canal Showtime. A outra boa notícia é que o material gravado pode render não apenas uma, como anunciado no início, mas duas temporadas.

Sabe-se pouco, por isso especula-se e especula-se que, 25 anos depois de ter acabado, não vão estar presentes atores do cast original como Lara Flynn Boyle (que fez de Donna Hayward) e Piper Laurie (intepretou Catherine Martell). O que se sabe – e aqui não se especula – é que foi arranjada uma maneira de ir buscar Sheryl Lee.

Claro que não foi fácil chegar aqui. Há um ano, o realizador que também nos deu Mulholland Drive ameaçou sair do projeto alegando falta de investimento. Depois voltou atrás e, do alto dos seus 70 anos, atirou-se ao Twitter para anunciar que sim, haveria mais Twin Peaks. Escreveu: “Os rumores não são o que parecem… São, sim!!! Está a acontecer outra vez”. Ton, ton. Altura de mais um recado do agente Cooper para Diane: “O que é que se passou entre Marilyn Monroe e os Kennedys? Quem é que verdadeiramente puxou o gatilho sobre J.F.K.?’’ Bem vindos a Twin Peaks. População: 51,201. Agora 51,200, sem Laura Palmer. Mas continua a contar.