Jodie Foster: o sucesso de filmar o fracasso

Não, Jodie Foster não foi agraciada com uma estrela no Passeio da Fama apenas agora, depois de 48 anos de carreira. Tal aconteceu em 1999. Mas a atriz demorou 17 anos até conseguir encontrar disponibilidade na sua agenda para receber esta distinção. À revista “Variety”, Ana Martinez, assessora do Passeio da Fama justificou esta demora…

Assim, a cerimónia teve lugar no passado dia 4 e a atriz recebeu a estrela – localizada mesmo em frente ao TCL Chinese Theatre – das mãos de Kristen Stewart, que interpretou o papel de sua filha no filme “Sala de Pânico” (2002), quando tinha apenas dez anos. Aliás, a protagonista da saga Twilight sublinhou justamente este aspeto: “Foi a minha primeira amiga adulta. E de todos os exemplos que poderia ter tido numa idade tão facilmente impressionável ninguém poderia ter sido mais útil do que a Jodie”. Já Foster, que dedicou o prémio à sua mãe e a todas as mulheres que sempre acreditaram em si, retribuiu a simpatia: “Tenho de admitir que, se alguma vez estivesse realmente trancada numa sala com 2,5 por 4,5 metros, ficaria contente se fosse com a Kristen Stewart”.

Dois mil e dezasseis, de resto, não podia estar a ser um ano melhor para a atriz e realizadora. Além da estrela, Jodie Foster está a lançar o seu mais recente projeto, o filme “Money Monster”. Depois de se estrear como realizadora num episódio de “Tales From the Darkside”, em 1988, e desde então ter filmado outros episódios de séries televisivas e as longas-metragens “Mentes que Brilham” (1991) – que realizou e protagonizou, “Home for the Holidays” (1995) e “O Castor” (2011) – onde também assumiu os dois cargos; agora Foster regressa ao papel de realizadora em “Money Monster”, cuja estreia mundial aconteceu no dia 12 de maio.

Considerado o mais ambicioso filme que Jodie Foster, “Money Monster”, que já é apontado como um favorito na corrida aos Óscares de 2017, conta a história de Lee Gates, um guru financeiro e apresentador de televisão, e a sua produtora, PattyFenn, que acabam reféns de Kyle Budwell, um investidor irado que perdeu todo o dinheiro depois de ter seguido os conselhos de Lee Gates. Num elenco que junta os veteranos George Clooney, Julia Roberts e Dominic West com Jack O’Connell e Caitriona Balfe, segundo a própria Jodie Foster, esta é, sobretudo, uma história sobre fracasso: “Gostei da ideia de perceber como é que diferentes pessoas lidam com o fracasso.

Era esse o tema ao qual constantemente regressava. Todas as personagens têm isto em comum.São todos pessoas que não têm fé em si próprios, que medem o seu valor através do dinheiro. Além disto, também é um filme com equipas SWAT e helicópteros e tudo o que um filme de entretenimento necessita. Mas o que realmente me interessa é o coração do filme. O resto são extras.”

Se Jodie Foster tivesse chegado mais jovem à representação teria saído diretamente do berçário para os palcos ou sets de filmagens. Tinha apenas seis anos quando participou na primeira série, “Mayberry”, e a partir daí nunca mais abandonou os ecrãs de televisão e as telas de cinema. Enquanto cresceu como atriz, o público foi assistindo, em simultâneo, ao seu crescimento como mulher.

O primeiro papel de maior relevo aconteceu pelas mãos de Martin Scorsese, em “Alice Já Não Mora Aqui” (1974). Dois anos mais tarde, e novamente com Scorsese, abraçava um dos papéis mais marcantes da sua vida. A jovem prostituta Iris, em “Taxi Driver”, valeu-lhe a primeira nomeação para um Óscar, bem como uma série de outros prémios.

O elenco do filme esteve recentemente reunido no Festival de cinema de Tribeca, para assinalar os 40 anos da obra. À data, Jodie Foster, que tinha 13 anos aquando das filmagens, recordou ter chorado no primeiro dia de trabalho. Mas não o fez por medo de não ser capaz ou sequer pela complexidade e agressividade do seu papel. Fê-lo porque receou que os amigos a gozassem pelos “calções curtos, o chapéu ridículo e os óculos de sol.”  Dramas de adolescente…

Duplamente vencedora do Óscar para melhor atriz – por “Os Acusados” (1988) e “O Silêncio dos Inocentes” (1991) – do seu currículo constam perto de uma centena de personagens distintas.Ainda assim, desde 2013, ano em que participou no projeto “Elysium”, que Foster não trabalha como atriz, dedicando-se à realização. Nesse mesmo ano de 2013, subiu ao palco dos Globos de Ouro para receber o prémio de carreira Cecil B. DeMille. No discurso, a atriz e realizadora, falou da sua homossexualidade, agradeceu à sua ex-companheira e aos filhos e, sobretudo, gritou bem alto que não obedecia às convenções de Hollywood. Porque a vida é dela. “Se vocês tivessem sido uma figura pública quando ainda usavam fraldas, se tivessem de ter lutado por uma vida que parecesse real e honesta e normal, talvez também privilegiassem a privacidade acima de tudo”, disse.