Ana Paula Vitorino. Uma ministra especialista em enfrentar sucateiros

Não há dúvidas que é uma mulher de armas e que não cede facilmente. 

Ana Paula Vitorino. Uma ministra especialista em enfrentar sucateiros

No famoso processo Face Oculta o seu nome aparece várias vezes – muitas das quais injuriada por colegas de partido – mas percebe-se pela transcrição das escutas publicadas que nunca cedeu aos interesses do principal arguido, o sucateiro de Ovar. Apesar das tentativas de personagens como Armando Vara de correrem com ela, Ana Paula Vitorino manteve-se firme e nunca demitiu o homem que os trambiqueiros queriam. Falamos de Luís Pardal, presidente da Refer, Rede Ferroviária Nacional, que proibiu os negócios da empresa com Manuel Godinho, a figura central do processo que haveria de ser condenado a pena efetiva. Recorde-se que as empresas de Godinho dedicavam-se, entre outras coisas, a “desviar” carris dos caminhos-de-ferro que depois vendiam a bom preço. Queriam ter relações privilegiadas com a Refer para terem acesso mais facilitado aos carris.

Para alguém ter resistido a tanta pressão é porque Vitorino estava bem segura do que fazia, não dando azo a que o seu ministro, Mário Lino, a demitisse. O longo braço de ferro acabaria com a trapalhada toda em tribunal, e a secretária de Estado dos Transportes ficou muito bem no retrato.

Tantos anos depois, Vitorino está outra vez debaixo de fogo, agora por enfrentar os estivadores que recusam deixar o Porto de Lisboa funcionar. Se na época do Face Oculta Vitorino enfrentava colegas de partido, no caso dos estivadores, a atual ministra do Mar vê-se obrigada a lutar contra os trabalhadores que estão em greve, bem como com os “parceiros” de coligação, BE e PCP. E aqui é que veremos se Vitorino será aconselhada pelo primeiro-ministro a calar-se ou se terá o apoio do líder governamental. A ministra entende que se o Porto de Lisboa continuar paralisado, as exportações ficarão em causa, além de que bens essenciais não chegarão às ilhas e a economia sofrerá um forte revés. Calcula-se que cada dia de greve implique um prejuízo de 300 mil euros diários para os operadores, além de que o nome de Portugal começa a ser riscado do mapa e os grandes operadores começam a optar por portos espanhóis.

Conseguirá Vitorino acabar com a greve, permitindo o despedimento coletivo dos estivadores? E se tal acontecer, o BE e o PCP vão ficar quietos a ver os capitalistas a despedirem os “seus” trabalhadores? Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos…

Artigo originalmente publicado na edição em papel do BI de 28/05/2016