Abu Bakr al-Baghdadi. O terrorista invisível

O líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, foi dado como morto… novamente. A informação, avançada pela agência oficial do grupo terrorista não convence os Estados Unidos, que precisam de ver para crer. Em três anos, al-Baghdadi apenas se mostrou uma vez. E ninguém sabe ao certo onde está.

Sucedeu a Abu Omar al-Baghdadi, quando este foi morto em 2010, à frente do Estado Islâmico do Iraque. Em 2013 anunciou o nascimento do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que tem perpetrado alguns dos mais mortíferos e macabros atentados quer no Médio Oriente (Iraque e Síria, sobretudo), quer no Ocidente. Considerado o mais temido líder terrorista da atualidade, há uma grande vontade da coligação internacional – principalmente dos Estados Unidos, que oferecem 10 milhões de dólares pela sua cabeça – em descobrir o seu paradeiro e pôr fim à sua existência.

A notícia da morte do líder surgiu esta semana, divulgada pela agência de notícias ligada ao Estado Islâmico, a Amaq. “Abu Bakr al-Baghdadi foi morto pela coligação internacional num ataque aéreo em Raqqa, no quinto dia do Ramadão”, lia-se no comunicado.

E esta até podia ser uma boa notícia, não fosse o facto de o líder já ter sido “morto” tantas vezes que ninguém acredita. “Baghdadi foi dado como morto mais vezes do que qualquer outra figura na história”, disse, em entrevista recente ao jornal “i”, o jornalista da BBC Andrew Hosken, autor do livro “Império do Medo – no Interior do Estado Islâmico”.

Os Estados Unidos reagiram de imediato às novidades. “Já vimos este tipo de relatos antes, aqui no Iraque e noutros locais. Por isso, até que tenhamos confirmação, estamos a usar a prática saudável do ceticismo”, disse ao canal “Fox News” Christopher C. Garver, porta-voz militar dos Estados Unidos em Bagdade. Garver acrescentou ainda que, a ser verdade, a morte do líder seria uma boa notícia, mas não representaria o fim da luta contra o grupo terrorista.

Os esforços dos Estados Unidos para capturar ou matar al-Baghdadi têm sido intensos. No espaço de alguns meses meses, a morte do califa foi anunciada sucessivas vezes. Em novembro de 2014, depois de um ataque da coligação que tinham como alvo o n.º 1 do Estado Islâmico, as notícias da sua alegada morte circularam por todo o mundo. Em abril 2015 surgiram rumores de que al-Baghdadi não teria resistido aos ferimentos depois de um ataque da coligação e que o grupo terrorista já estaria a pensar num novo líder. Mais uma vez, os factos não foram confirmadas.

Em outubro desse ano, a notícia voltou a circular, mas desta vez a informação provinha das forças iraquianas e não do Estado Islâmico.

Uma coisa é certa, apesar de não terem provocado a morte do líder, os ataques infligiram-lhe ferimentos graves. Andrew Hosken também está convencido disso. “Acho que ele está gravemente ferido. Há boatos de que tem uma lesão na coluna muito séria. Tem de estar num sítio muito seguro e não deve sair muito desse sítio, se é que chega a sair”, disse o jornalista da BBC na referida entrevista.

Suspeita-se que o esconderijo de al-Baghdadi se situe em Mossul, no Iraque, mas ninguém tem certezas. O líder fez apenas uma aparição em público, em 2014, na altura em que se autoproclamou califa do Estado Islâmico. “É um fardo aceitar esta responsabilidade de estar no vosso comando”, dizia. “Se me virem no caminho certo, ajudem-me. Se estiver no caminho errado, aconselhem-me e detenham-me. E obedecei-me tanto quanto eu obedecer a Deus”, pediu num discurso de meia hora. Na altura, os meios de comunicação social chamaram a atenção para o facto de usar um relógio que parecia um Rolex.

Al-Baghdadi nem sempre foi um homem temido. “Era uma pessoa normal, professor numa universidade”, disse a ex-mulher do líder terrorista numa entrevista à CNN, em abril deste ano. Saja al-Dulaimi garantiu até que o ex-marido era “um pai ideal para as crianças”, só se tendo tornado mais tarde um “terrorista sanguinário”.

Nascido em Samarra, Iraque, em 1971, Al-Baghdadi estudou na Universidade de Ciências Islâmicas em Bagdade e associou-se a grupos insurgentes em 2003. Esteve preso durante quatro anos numa base norte-americana no Iraque mas acabaria por ser libertado em 2009. Chegou à liderança da Al-Qaeda no Iraque, altura em que foi incluído na lista terrorista dos Estados Unidos e da ONU.

Rapidamente conseguiu transformar um pequeno grupo numa organização temível, relegando a Al-Quaeda para um plano secundário no terrorismo global.