Reino Unido: o Brexit está nas mãos de mulheres

A saída do Reino Unido da UE deu destaque a três mulheres. Theresa May, Angela Eagle e Nicola Sturgeon terão papéis importantes nas negociações do divórcio. 

Chegou a hora de a política britânica começar a escrever-se no feminino. Esta semana, Theresa May ocupou o lugar de David Cameron – que saiu do Governo esta quarta-feira – e é agora a nova primeira-ministra do país, 26 anos depois de Margaret Thatcher, que governou o país entre 1979 e 1990. Desde então, mais nenhuma mulher tinha governado o Reino Unido. May trabalhou durante 12 anos no Banco de Inglaterra e há quase duas décadas que estava na política do país. Era ministra do Interior desde 2010. 

Há largos anos que May consta na lista de possíveis líderes dos conservadores e assim que David Cameron anunciou a sua renúncia face ao resultado do referendo que ditou a saída do país da União Europeia, May conseguiu uma clara vantagem na disputa pelo cargo.

Conhecida como ‘Rainha do Gelo’, a antiga ministra britânica do Interior quer tornar o Reino Unido «num país que realmente funcione para todos». «Em primeiro lugar, precisamos de uma nova visão ousada e positiva para o futuro do nosso país. Em segundo lugar, precisamos de unir o nosso partido e o nosso país», disse no discurso em que tomou posse. Em terceiro lugar vem a saída do Reino Unido da União Europeia e tudo o que a separação implica. 
Apesar de ter defendido a permanência do país no bloco europeu, a nova líder do país prometeu cumprir a vontade dos britânicos. «Brexit significa Brexit. Não haverá tentativas de ficar dentro da UE, nem tentativas de voltar pela porta das traseiras num segundo referendo», disse Theresa May. «O país votou para sair da UE e, como primeira-ministra, vou garantir que saímos mesmo», prometeu. Ainda assim, a agora líder conservadora pede tempo para ativar o artigo 50. Numa conversa com a chanceler alemã Angela Merkel, com quem May já é comparada, deixou explícita essa vontade.

«A primeira-ministra explicou que necessitamos de tempo para preparar as negociações e manifestou-se confiante sobre os contactos que devem decorrer com espírito construtivo e positivo», disse uma fonte do novo gabinete do Governo britânico.

E se do lado conservador a liderança já foi oficialmente assumida por uma mulher, o mesmo pode vir a acontecer com os trabalhistas. Atualmente, a maior dor de cabeça de Jeremy Corbyn é Angela Eagle que já anunciou oficialmente a sua candidatura à liderança do Partido Trabalhista. «Corbyn não é má pessoa mas também não é um líder», disse Eagle. A sua candidatura surge após a recusa de Corbyn em renunciar, como tem exigido o seu próprio grupo parlamentar, que o acusa de não ter feito o suficiente pela permanência do Reino Unido na União Europeia. 
Eagle, a primeira mulher deputada na Câmara dos Comuns a assumir publicamente a sua homossexualidade, trabalhou 24 anos como deputada trabalhista no Parlamento britânico. Entre outros cargos, foi ministra da Segurança Social no Governo de Gordon Brown. Pretende agora mudar o rumo do seu partido. «Vou explicar a minha visão ao meu país e a diferença que pode representar um ‘Labour’ [Partido Trabalhista] forte», garantiu Eagle esta semana.

Caso venha a substituir Corbyn, esta mudança constituirá um feito inédito: em 116 anos de história, nunca o Partido Trabalhista foi liderado por uma mulher.

Contudo, a disputa entre os trabalhistas ainda está longe da solução e, segundo indiciam as sondagens, a preferência vai para Corbyn.

Na Escócia, onde a maior parte dos partidos é encabeçada por mulheres, a primeira-ministra Nicola Sturgeon já avisou que não quer abandonar a União Europeia e, caso seja obrigada, ameaça realizar um referendo sobre a independência, prometendo ainda fazer o que estiver ao seu alcance para proteger os interesses escoceses. Sturgeon, que primeira-ministra desde 2014, foi a primeira mulher a assumir o cargo. 

Sturgeon, May e Eagle fizeram-se ouvir principalmente pelos estragos que trouxe o referendo que ditou a saída do Reino Unido da UE. E todas elas terão uma palavra a dizer no processo de negociação que ainda não começou.