Recuperação ou estagnação?

Como está a economia? Depende da perspetiva. Governo mostra dados de recuperação, PSD denuncia estagnação.

Quem nos últimos dias assistiu à guerra de gráficos e números entre Governo e oposição ficou confuso. António Costa e Caldeira Cabral apresentaram no Parlamento dados que mostram a economia a crescer, mais investimento e mais exportações. Pedro Passos Coelho e a sua bancada parlamentar descrevem uma economia anémica, com investimento a cair e exportações a descer. Quem está, afinal, a falar verdade?

Nenhum dos dois lados está a mentir. Mas é tudo uma questão de perspetiva e de puxar pelos números que mais jeito dão à tese política de cada um. Costa mostra o PIB a subir, porque olha para a evolução do segundo trimestre de 2016. O PIB estava a cair no final de 2015 e, desde o início do ano, está em recuperação.

Isso é verdade, mas é também verdade o que diz Passos Coelho, que compara o início de 2016 com o início de 2015. E faz mais: lembra as próprias previsões do Governo. «A economia está a crescer metade, metade, do que estava previsto», atirou esta semana no Parlamento o líder do PSD. Contra este argumento há pouco a dizer, a não ser – como tem feito o Governo – que há dados como as crises no Brasil e em Angola que estão a prejudicar a evolução económica.

Esse tem sido, de resto, o argumento para justificar a quebra das exportações até agora. Porque há uma semana António Costa veio defender que a atividade exportadora está a aumentar. Como? Analisando as vendas em valores absolutos e não as taxas de variação.

O PSD admite que as exportações estão a crescer, embora pouco, porque olha para a variação homóloga que mostra as vendas ao exterior a subir mas a um ritmo mais lento do que vinha a acontecer.

Do lado do Governo, há ainda um argumento de peso para os maus resultados nas exportações:   em 2016 a Auto Europa e a refinaria de Sines – dois gigantes que mais pesam nestes valores – tiveram paragens de produção. Se não acontecer o mesmo, 2017 será melhor. Além disso, os números de subida da atividade turística – as receitas totais aumentaram em julho – fazem o Governo acreditar que em 2017 haverá boas notícias para a economia.

Mas para que isso aconteça é essencial – como tem vindo a alertar o Presidente da República – que o investimento cresça. Costa assegura que está a recuperar, exibindo um gráfico com a variação em cadeia da formação bruta de capital. Caldeira Cabral assegura que o investimento estrangeiro na indústria transformadora subiu 70% e no imobiliário 60%. Em termos globais, o Governo fala numa subida de 7% do investimento por parte de empresas não financeiras e na criação de 89 mil novos postos de trabalho face a 2015.

O PSD assegura que o investimento está a cair, porque olha para as variações homólogas (que descontam investimentos irrepetíveis) e desconta os stocks que estão em armazém para chegar a uma queda de 3,1% no investimento total.