Dignidade humana no centro do trabalho de Guterres e da ONU

O discurso do ex-primeiro-ministro português após ter sido confirmado como secretário-geral das Nações Unidas

Gratidão e humildade foram novamente as palavras utilizadas por António Guterres, no seu discurso perante os 193 Estados-membros das Nações Unidas. Mas acrescentou mais uma: responsabilidade. “Um profundo sentido de responsabilidade” por ter sido escolhido para o cargo de secretário-geral das Nações Unidas.

O ex-primeiro-ministro sublinhou as características de transparência e abertura que marcaram o processo de seleção e afirmou que, por ter sido escolhido por todos, tem a obrigação de servir todos os Estados-membros de igual modo e “sem agenda”, a não ser aquela que está patente na Carta das Nações Unidas.

“Tenho a perfeita noção dos desafios que as Nações Unidas enfrentam”, afirmou o recém-nomeado secretário-geral, acrescentando que também tem noção dos “limites” do seu cargo. Ainda assim, adianta que os “problemas dramáticos” que se vivem no mundo de hoje podem ser abordados com “humildade”.

Relativamente ao cargo, Guterres sublinhou o facto de o secretário-geral não ter “todas as respostas” e de não querer “impor a sua visão”. O português disse também que, enquanto secretário-geral, irá ser um “mediador”, um “construtor de pontes” e um “negociador honesto” de modo a encontrar soluções que beneficiem todos.

O ex-governante português recordou ainda o seu trabalho no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. “Nos últimos 10 anos testemunhei em primeira mão o sofrimento das pessoas mais vulneráveis no mundo. Visitei locais de guerra e campos de refugiados”, disse. Questiona ainda o que aconteceu à “dignidade do ser humano” e também o que aconteceu para as pessoas se terem tornado “imunes” a este tipo de sofrimento. E deixou uma promessa: fazer da dignidade humana “o centro” do seu trabalho e dos “esforços comuns” da ONU.

Guterres disse também ter assistido aos desafios que as mulheres em todo o mundo enfrentam, seja em casa, seja no trabalho, “só por causa do seu género” e assegurou que irá fazer da paridade de género uma prioridade – algo que diz ter feito por todos os cargos em que passou.

“A diversidade pode unir-nos, não afastar-nos”, afirmou, destacando a necessidade de “quebrar a aliança” entre os terroristas, os extremistas, os populistas e os xenófobos.

Em francês, o ex-primeiro-ministro falou da paz. “Sem paz, a vida perde todo o seu sentido”, sublinhou, realçando que a paz é a “grande ausente do nosso mundo”. “A ONU tem o dever moral e a obrigação de garantir a busca da paz através da diplomacia, uma diplomacia que defenda a diversidade, uma diplomacia capaz de promover a resolução pacífica de disputas”, acrescentou.

O português recordou ainda as aulas de História que tinha no secundário, onde no fim de cada guerra “havia um vencedor”. “Os conflitos atuais só conhecem perdedores”, realçou. Perante isto, o recém-eleito secretário-geral disse que era responsabilidade da organização “pôr fim a esta situação”.

Desta vez em espanhol, Guterres agradeceu o trabalho dos soldados da paz e apelou a todos os Estados-membros para não permitir que “comportamentos repugnantes” possam de algum modo pôr em causa a ONU.

Novamente em inglês, o próximo secretário-geral agradeceu ao seu antecessor Ban Ki-moon pelo seu trabalho e “dedicação à causa da paz mundial”, acrescentando que fará o que puder para “honrar o seu legado”. Deixou ainda uma palavra de agradecimento aos funcionários da ONU.

Em francês, conclui que “o sonho dos fundadores da ONU permanece por cumprir”.