Banca na mão de chineses

A compra do ex-BESI foi a estreia por parte da Haitong, mas agora a Fosun quer parte do BCP e a China Minsheng mostra interesse em adquirir o Novo Banco.

A banca portuguesa é um dos setores considerados estratégicos para os empresários chineses e isso é visível pelas manifestações de interesse na compra das mais variadas instituições financeiras nacionais, quer na sua totalidade, quer de forma parcial. Essa aposta é vista com bom agrado para os investidores chineses, já que grande parte dos negócios são considerados viáveis, marcas de referência, empresas com futuro e que precisam acima de tudo de injeções de liquidez. 

O pontapé de saída foi dado com a compra do BESI, banco de investimento do universo Espírito Santo por parte da Haitong por 379 milhões de euros e passou a designar-se por Haitong Bank. A aposta no mercado português serviu como porta de entrada no mercado europeu, onde o grupo não esconde as ambições. Com a aquisição do BESI, a Haitong entrou na Europa e na América. O BESI tem escritórios no Reino Unido, Irlanda, Polónia, Espanha, Estados Unidos, Brasil, México e Índia, neste último país na área da corretagem.

O grupo liderado por Wang Kaiguo presta serviços financeiros a mais de 4,6 milhões de clientes e 12 mil instituições com mais de 240 escritórios espalhados pelas 30 províncias chinesas. Kaiguo entrou na empresa em 1995 e tornou-se chairman três anos depois, tendo um historial com ligações ao Partido Comunista. Antes de ir para a Haitong, liderou um organismo do Estado que geria as participações do Governo nas empresas públicas. Doutorado em economia, o gestor é um dos economistas mais reputados no país.

José Maria Ricciardi, o primo que contestou a gestão de Ricardo Salgado, manteve-se como presidente da comissão executiva, um cargo que ocupa há anos no banco de investimento. Mas as suas ambições não ficaram por aqui. Em setembro, Ricciardi mostrou interesse em juntar um consórcio de investidores para adquirir 30% do Novo Banco ao Fundo de Resolução, numa iniciativa à margem do processo de venda que se encontra em curso.

O gestor terá contactado Sérgio Monteiro, o ex-secretário de Estado dos Transportes que é responsável pelo processo de venda do Novo Banco, e comunicado que poderia promover a entrada de um grupo de investidores no capital do Novo Banco com a subscrição de um aumento de capital entre 1500 e dois mil milhões de euros. O Estado continuaria a ser dono da maioria do capital do banco, que poderia depois dispersar em bolsa. 

Uma solução que parece não convencer o presidente do Novo Banco, António Ramalho que tem vindo a revelar que a «prioridade específica» continua a ser a venda direta, afastando assim a proposta do grupo Haitong para encontrar investidores fora do concurso internacional lançado pelo Banco de Portugal e Fundo de Resolução.

Mais chineses na corrida

Mas o Novo Banco não tem despertado interesse apenas ao Haitong. Ainda na semana passada, o primeiro-ministro confirmou que existia uma nova proposta do China Minsheng para comprar a instituição financeira, adiantando que, esse é ainda um processo que decorre sob a alçada do órgão regulador que tem a responsabilidade de analisar as diferentes propostas e só depois fará uma proposta final ao Governo.

O que é certo é que a oferta do China Minsheng não é vinculativa e surge no âmbito de uma solução de mercado, em que o Minscheng admite adquirir mais de 50% do Novo Banco com dispersão das ações sobrantes em bolsa e aumento de capital.

A verdade é que a compra de ações do Novo Banco tem sido considerada sempre como um plano B. E esta manifestação de interesse decorre em paralelo com o concurso público de alienação de 100% da instituição financeira. Neste momento estão na corrida ao controlo maioritário do banco cinco grupos: BCP, o BPI e três fundos norte-americanos de private equity, o Lone Star Funds e a Apollo associada ao Centerbridge Partners. Aliás, todos estes interessados foram notificados, esta semana, para apresentar uma proposta final à compra da instituição financeira até ao dia 4 de novembro.

A passos largos para entrar no BCP

Já começou a contagem decrescente para a entrada da Fosun – que detém em Portugal a seguradora Fidelidade e o grupo de prestação de cuidados de saúde Luz Saúde (ver páginas anteriores) – para entrar no capital do BCP. A ideia é comprar, numa primeira fase, 16,7% do capital da instituição financeira por 236 milhões de euros. Esta aquisição será consolidada através de um aumento de capital, que a companhia admite reforçar mais tarde para entre 20% a 30%.

Uma das exigências do grupo chinês era o reagrupamento bolsista. O banco liderado por Nuno Amado decidiu fundir 75 títulos num só. Esta operação, denominada ‘reverse stock split’, tem como objetivo aumentar o valor unitário das ações e terminou ontem. 

Esta fusão das ações terá efeitos já a partir da próxima segunda-feira e tornou-se possível depois de ter entrado em vigor a alteração do Código do Mercado de Valores Mobiliários aprovada pelo Governo no Conselho de Ministros de 22 de setembro. Trata-se de um diploma que permite reagrupar ações fora das operações de redução de capital.

A Fosun, quando anunciou o interesse de entrar no capital do BCP, apresentou várias exigências, designadamente a fusão das ações do banco e o aumento do limite de votos de 20% para 30%. Este último ponto vai ser discutido pelos acionistas no próximo dia 9 de novembro, assim, como aumentar o número máximo de administradores de 20 para 25 elementos.

Para o banco de Nuno Amado, a entrada dos chineses aumenta a estabilidade da estrutura acionista e ajuda a financiar a devolução dos CoCo’s que o banco tem de pagar ao Estado. O BCP ainda tem cerca de 700 milhões de euros para devolver e aguarda autorização para pagar uma tranche de 200 a 250 milhões.

Para o grupo chinês, esta entrada no BCP é «um novo passo no investimento em Portugal» e permite ganhar o controlo do maior banco privado português e acelerar a entrada no mercado europeu e africano.

Este interesse surge depois de o grupo ter entrada na corrida pelo Novo Banco. A empresa foi uma das três finalistas, mas o Banco de Portugal não aceitou a sua proposta, nem a dos concorrentes – outra chinesa, a Anbang, e a americana Apollo e acabou por cancelar o concurso em setembro passado.

Além disso, no início de 2012, o Banco Internacional e Comercial da China (ICBC) abriu o seu primeiro escritório em Portugal, mais precisamente em Lisboa. E um ano depois, foi a vez do Bank of China escolher a capital portuguesa para abrir um escritório e um balcão de atendimento.