Santana lança farpa a vereadores do PSD

Elogio a vereador do CDS-PP serve para mandar mensagem para dentro do partido e manter-se como putativo candidato.

«Pedro Santana Lopes não consegue estar 10 dias seguidos sem o seu nome apareça numa notícia sobre Lisboa». Quem o diz é uma fonte próxima de Santana Lopes, admitindo que é uma forma de o ex-autarca manter a pressão sobre o partido, sem deixar claro se avançará ou não com uma candidatura à Câmara. Ontem, Santana voltou ao tema com um artigo com rasgados elogios a um vereador do CDS e uma crítica velada ao PSD.

O texto foi publicado no Correio da Manhã com o título «Um vereador a sério». E o elogio foi todo para João Gonçalves Pereira, líder da distrital de Lisboa do CDS e vereador responsável por uma iniciativa de combate ao desperdício alimentar feita numa parceria que envolve a autarquia, a ASAE e a Santa Casa da Misericórdia. Nada a estranhar, portanto, no aplauso a este programa, mas o provedor da Santa Casa quis deixar claro que o seu artigo não serve só para louvar o mérito do combate ao desperdício alimentar.

«Este texto de hoje não é tanto para destacar essa iniciativa, mas para falar do vereador João Gonçalves Pereira, do CDS-PP», afirma Santana Lopes num artigo com uma farpa à forma como os vereadores sociais-democratas Fernando Seara e Teresa Leal Coelho têm desempenhado a oposição na Câmara de Lisboa.

«O que não faz sentido é não haver estratégia e não haver oposição», atira, depois de admitir a dificuldade de estar nesse papel «quando já se exerceu as funções de presidente dessa mesma Câmara» – como lhe aconteceu a si – e de reconhecer que «ser-se oposição mais ou menos acutilante depende da estratégia de cada um e das circunstâncias de cada época».

Desconforto no PSD

O ataque à falta de «estratégia» é quase subliminar no texto, mas não passa despercebido dentro do próprio PSD onde há muito se sente o desconforto pela forma pouco eficaz com que a vereação social-democrata tem feito oposição, primeiro a António Costa e depois a Fernando Medina.

As hostes das estruturas locais não estão contentes com a atuação dos vereadores do PSD, Santana sabe disso e esse recado é, por isso, também para dentro do partido.

A forma elogiosa como se dirige ao vereador do CDS poderia ser vista também como um sinal de defesa do apoio pelo PSD da candidatura de Assunção Cristas. Mas Santana Lopes fez questão de avisar os mais próximos em Lisboa de que nada mudou na sua posição relativamente à Câmara desde o já famoso «keep cool» do Congresso de Espinho e que não deveriam retirar daqui a leitura de que já está fora da corrida.

Fonte do PSD Lisboa diz por isso preferir ver no texto uma forma de «namorar o centro-direita» mais do que uma eventual aproximação ao CDS.

No CDS também não se valoriza em demasia este piscar de olho daquele que é, pelo menos por agora, o mais provável rival de Assunção Cristas na corrida à Câmara. Mas o visado não deixou de comentar o agrado com as palavras simpáticas de Santana. «Confesso que fico muito sensibilizado pelo reconhecimento do trabalho que tenho vindo a desenvolver ao longo dos últimos três anos, com toda uma equipa focada no serviço à cidade», escreveu João Gonçalves Pereira no Facebook, sem hesitar em apontar Santana Lopes, a par de Paulo Portas e Telmo Correia, como uma das suas «referências políticas».