Benfica: uma tranquila solidão em tons de vermelho

Luís Filipe Vieira vai ser hoje reeleito até 2020. Entra para o seu quinto mandato com a ambição do tetra e com o afirmar do projeto levado a cabo no Seixal 

O Benfica vai hoje a votos. Luís Filipe Vieira será reeleito sem opositor, não se tivesse ele tornado, durante os últimos anos, a face da renovação do clube e a alavanca para o retomar a hegemonia no futebol português, apostando igualmente nas modalidades, quase todas elas conquistadoras de títulos.

Entre as 10 e as 22 horas, no pavilhão nº 2 do Estádio da Luz, e também nas Casas do Benfica de Famalicão, Coimbra, Évora e Faro, os sócios poderão exercer o seu voto. Quanto aos que vivem nas ilhas adjacentes e no estrangeiro, o voto é deposto via internet no site oficial do clube, através do número de associado e um PIN recebido para o efeito.

Mera formalidade, dirão uns. De facto, Vieira conquistou uma posição de inatingibilidade na presidência dos encarnados, de tal forma que listas concorrentes não encontram espaço para existir. Este será o quinto mandato de Luís Filipe Vieira, ele que foi eleito pela primeira vez a 3 de Novembro de 2003, tomando posse como 33º presidente do Sport Lisboa e Benfica.

A lista Será amanhã à noite, após o encerramento das urnas, que a nova direcção tomará posse. Não há grandes novidades em relação ao elenco, mantendo-se muitos dos actuais dirigentes em funções. Os seis vice-presidentes serão: Domingos Soares de Almeida e Lima, José Eduardo Moniz, Nuno Gaioso, Varandas Fernandes, Fernando Tavares e João Quadros da Costa Quinta. Dois são os vice-presidentes suplentes: Alcino António e Sílvio Cervan. O presidente do Conselho Fiscal será Nuno Afonso Henriques dos Santos, com Rui Manuel Nascimento Barreira na vice-presidência. A Assembleia Geral continua a ser presidida por Luís Nazaré, com Vírgilio Duque Vieira como vice-presidente.

Rui Cunha e Rui Gomes da Silva abandonaram as suas vice-presidências. O primeiro continua ligado ao Benfica, no departamento financeiro, o segundo sai por inteiro da organização. Por seu lado, Fernando Tavares que, no passado, se incompatibilizou com Luís Filipe Vieira, regressa à Luz e terá a seu cargo as modalidades, como já tivera noutros tempos.

Esta direcção terá, agora, um mandato até 2020, mais quatro anos, portanto, e Luís Filipe Vieira assume a continuidade de um projecto vencedor tanto no futebol como nas modalidades – agora feridas pelos ataques efectuados pelo Sporting ao atletismo do Benfica – e o afirmar da marca do clube na Europa e no mundo, com incidência no mercado chinês no qual Vieira promete apostar em força.

Já na história do Benfica como presidente há mais tempo em funções, Luís Filipe Vieira encontra-se no posto há 13 anos, ultrapassando claramente o seu antecessor, Bento Mântua, que ocupou o cargo durante 9 anos e um mês, entre 1917 e 1926.

Tranquilidade Dir-se-á que poderá ser o mandato mais tranquilo de Vieira à frente do Benfica se não soubéssemos a importância que os resultados do futebol têm na disposição dos adeptos. De qualquer forma, depois de ter ultrapassado três anos em que viu o FC Porto ser tri-campeão, o Benfica como que se instalou na cadeira do primeiro lugar, com mais ou menos dificuldades e sobrevivendo sem cicatrizes á saída do treinador Jorge Jesus.

Com Rui Vitória, o presidente do Benfica ganhou um aliado para o desenvolvimento daquilo que ele já chamou de a menina dos seus olhos: a Academia do Seixal. Produzir novos talentos em quantidade e dar-lhes possibilidade de surgirem na primeira equipa, eis uma das batalhas de Vieira nos últimos tempos. “O Benfica vai manter uma estrutura muito experiente, mas abrirá a porta a mais jogadores jovens. O que está a acontecer com o aparecimento de talentos significa que, no futuro, poderes reduzir o investimento na equipa principal”, afirmou Vieira recentemente. “Rui Vitória é um grande treinador e está em sintonia com esta filosofia. Ele conhece bem todos os jogadores das camadas jovens. Temos cerca de 250 miúdos a trabalhar no Seixal. Posso garantir que iremos ter jogadores de qualidade para todas as posições”.

O sonho do tetra É a grande ambição de Luís Filipe Vieira para a época que há pouco começou. Apesar de ser o clube com mais títulos de campeão (35), nunca na sua centenária história o Benfica foi campeão por quatro vezes consecutivas, ao contrário dos seus grandes rivais, FC Porto e Sporting. Por isso a aposta é forte e fundamental.

Atingir um objectivo inédito mexe com o presidente e com os seus colaboradores. O plantel que pôs à disposição do técnico parece ser mais equilibrado do que nunca, pesem as saídas de Gaitán e Renato Sanches, para o Atlético de Madrid e para o Bayern de Munique. A verdade é que, a despeito da ambição da nova direcção em manter o Benfica no topo do futebol português e com maior visibilidade na Europa, através da Liga dos Campeões, os encarnados continuarão a ser obrigados a vender muitas das suas pérolas para sustentar o passivo e para pagar os juros das dívidas bancárias. Veremos se serão capazes de resistir já às investidas de Janeiro e à cobiça que cai sobre dois ou três dos seus jogadores.

Nas últimas eleições, Luís Filipe Vieira obteve 83,02% dos votos contra os 13,83% de Rui Rangel. O seu terceiro mandato tinha sido conquistado com uma goleada das antigas: 91,74% dos votos derrotaram por completo as intenções de Bruno de Carvalho. Agora corre sozinho. Logo se verá se isso é motivo para uma abstenção generalizada que até podia ser compreensível. Ou se os sócios vão querer cumprir o seu dever.