Fintech. Democratizar o investimento e a negociação financeira

A tecnologia está a mudar a banca e os serviços financeiros. Há cada vez mais players, com base na internet, no mercado. E as pessoas gostam.

A desconfiança e relutância de muitas pessoas em lidar com os bancos e outros serviços financeiros – em especial com a atual crise –, é uma tendência da atualidade. Também os millennials têm uma relação diferente com os seus bancos e outras instituições financeiras. Estes fatores, aliados à inovação tecnológica, têm sido os catalisadores das fintech, uma indústria em expansão e ainda com um enorme potencial de crescimento.

No início da Web Summit, maior evento de tecnologia e inovação do mundo, este foi um dos tópicos em destaque. “As pessoas não gostam dos bancos, em especial os millennials. A relação com um banco existe através de uma app. Isto é terreno fértil para uma tecnologia disruptiva”, resume Samir Desai, da Funding Circle, empresa que coloca investidores em contacto com negócios que precisam de capital. O responsável, que participou num dos vários painéis do evento sobre o tema, acrescentou que esta é uma indústria que está a “relacionar diferentes investidores e a interligar o capital com empréstimos a nível global”.

Esta tecnologia disruptiva deu origem à indústria fintech – empresas que utilizam tecnologias para criar serviços financeiros, garantir o fornecimento de serviços financeiros (através de utilização da tecnologia) ou fazer com que a inovação tecnológica providencie serviços financeiros. Os fundamentos da fintech estão nos dados (big data) e nos algoritmos desenvolvidos para chegar da forma mais eficiente possível aos clientes.

“Os melhores serviços financeiros são aqueles que percebem as necessidades das pessoas. É uma questão de ser inteligente a trabalhar a informação de que dispomos e utilizá-la em benefício do consumidor”, sustentou Mattias Ljungman, cofundador da Atomico.

O investidor em empresas de tecnologia participava no primeiro debate do dia, que tinha como mote a forma como esta indústria se está a desenvolver. Neste realçou-se que a aplicação de outras tecnologias emergentes, como machine learning, é muito significativa num “ecossistema em que há o desenvolvimento de parcerias”. As oportunidades de trabalho “vão obrigar a uma mudança na força de trabalho, mas em que haverá empregos online”, num processo “de mudança lenta para o mundo digital”.

Oportunidades

Jay Reinemann, da Propel Ventures Capital, outro dos participantes no painel, defendeu que “há muitas oportunidades de negócio no Reino Unido e União Europeia”, mas também nos mercados emergentes, uma vez “que são as pessoas que não têm os serviços que mais precisam deles”. Além disso, exemplificou, há também as pensões, que “poderão, para muitas pessoas que trabalharam em países diferentes, ser pagas por diferentes entidades, o que obriga a um cada vez maior desenvolvimento de serviços financeiros”.

O papel da banca e a sua relação com a fintech esteve também em análise. Num debate entre Mike Leaven, da CurrencyCloud, e Claire Calmejane, do Lloyds Bank, o primeiro defendeu “que não é pela inovação” que os bancos vão continuar a prosperar, uma vez que há “uma questão cultural” que é impeditiva de uma evolução.

A diretora de inovação do banco britânico argumentou, por seu lado, que a banca online “é a inovação mais importante da década e foi desenvolvida pelos bancos”, acrescentando que “ a inovação será conseguida por todas as pessoas do ecossistema e que todos deveríamos ter orgulho nessa colaboração”.

Kim Founais, cofundador e CEO do Saxo Bank, interveio na Web Summit para dar a sua perspetiva sobre o futuro da banca e dos serviços financeiros. “O mundo precisa de banca, mas não de bancos”, sentenciou, defendendo “que todo o modelo e cultura precisa de mudar” e que isso acontecerá com “novas entradas e parcerias” no sistema. “O papel da inteligência artificial será cada vez maior e as máquinas vão aprender com os dados para darem conselhos financeiros cada vez mais precisos”, disse o responsável da instituição dinamarquesa. “A democratização do investimento e dos negócios financeiros é absolutamente proeminente.”