Onda de despedimentos atinge redações

Só em sete anos, entre 2007 e 2014, Portugal perdeu mais de 1200 jornalistas e futuro preocupa até mesmo dentro dos grandes grupos 

Com os grandes grupos de media nacionais a perder dinheiro, multiplicam-se relatos de rescisões aqui e ali. Com a Impresa, a Cofina e a Impala, por exemplo, a tentar encolher cada vez mais a estrutura para fazer face aos resultados que já não são o que eram antes da crise de 2008, os receios têm vindo a aumentar no seio da classe.

No início deste mês, o Sindicato de Jornalistas dava conta de uma reunião com o grupo Impresa, que detém a SIC, a Visão e o Expresso, por causa de uma denúncia da existência de um plano de cortes de pessoal.

Em causa estavam 20 rescisões voluntárias, que afetam sobretudo a Visão e o Expresso e, segundo o grupo, acontecem por causa da «forte queda nas receitas publicitárias».

Já para as equipas que pertencem ao grupo da Global Media, que mudou esta semana de edifício, fica a garantia de que não haverá redução do número de trabalhadores. O administrador da KNJ, que a partir de março vai passar a controlar parte da Global Media, já garantiu que não serão feitos despedimentos.

Quando questionado sobre os planos para o futuro do grupo, Kevin Ho esclareceu que «as operações vão continuar a ser geridas pelos profissionais existentes». Até porque a empresa sofreu uma restruturação em 2014, altura em que ficou concluído um processo de despedimento coletivo que afetou 134 pessoas.

Também na Cofina, o SOL sabe que têm sido desenhadas algumas alterações para ajustar o grupo a uma nova realidade, até porque, de acordo com as contas mais recentes, o lucro do grupo caiu 6,7% até setembro deste ano. De acordo com a empresa, liderada por Paulo Fernandes, «os primeiros nove meses de 2016 foram caracterizados por um decréscimo da publicidade de cerca de 3,8% [para 23,2 milhões de euros] face ao período homólogo de 2015 e por uma descida das receitas de circulação de cerca de 3,2% [para 39,3 milhões de euros]». As redações mais afetadas por alterações no número de jornalistas deverão ser a Sábado e o Record.

Portugal perde jornalistas

O SOL tentou atualizar os dados sobre os despedimentos que têm acontecido na área, mas não conseguiu obter resposta até ao fecho da edição. No entanto, dados do final de 2014 mostram que Portugal já tinha perdido nesta altura 1.218 jornalistas. Aliás, entre 2007 e 2014, o número de carteiras profissionais ativas tinha baixado de 6.839 para 5.621, o que representava um decréscimo de 17,8%.

Os mesmos dados, da Comissão da Carteira de Jornalistas, mostravam ainda que o número se justificava pelo «crescimento assustador do desemprego».

Só de 2012 a 2014, os despedimentos anunciados ajudavam em muito a justificar a queda nos números apresentados pela Comissão da Carteira. Ao todo, falava-se em cerca de 185 despedimentos, fora o Plano de Saídas Voluntárias da RTP.

Outro problema que se levantava e levanta é o aumento dos vínculos precários nas redações, também ele efeito da crise, e de falsos estagiários.