Afinal não foram só os turistas

A razão da aceleração do crescimento económico prende-se com o aumento da procura externa. 

O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou hoje a segunda das três leituras que fará sobre a evolução dos PIB nacional no período entre julho e setembro. Os números não foram alterados em relação à estimativa rápida de há duas semanas atrás: o PIB cresceu 1,6% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, e 0,8% em relação ao segundo trimestre deste ano. Mas agora, temos números mais detalhados, que nos permitem ter uma ideia mais precisa do que se está a passar na economia portuguesa.

A razão da aceleração do crescimento económico prende-se com o aumento da procura externa. Muito se disse sobre a influência do turismo na boa evolução do PIB, quer para desvalorizar o impacto das políticas internas que estão a ser seguidas, quer porque de facto estamos a ter um ano turístico excecionalmente bom. Todavia, olhando para os números, verificamos que a aceleração da exportação de bens (5,7%) foi maior do que a aceleração das exportações de serviços, onde se inclui o turismo (4,4%). Portanto, a história de “a economia só cresceu devido ao turismo” tratou-se, para além de uma especulação infundada (porque não havia números para a sustentar), de uma infeliz manobra mediática, que pode agora ser desmontada.

Mais alguns números. Os gastos do Estado subiram 0,5% em relação ao mesmo trimestre de 2015. Estão controlados, mas seria melhor que descessem.

Quanto ao consumo interno, acelerou um pouco o seu crescimento (passou de 1,6% para 1,9%), pese embora a desaceleração da compra de automóveis novos (o que até ajudou, pois, os automóveis novos são quase todos importados, e as importações diminuem o PIB).

O investimento diminuiu 3,1%, sobretudo devido ao mau momento que a construção está a atravessar. Mas há investimento produtivo: as compras de equipamento de transporte subiram 0,8% e as de outras máquinas e equipamentos aumentaram 3,1%.

O que me faz lembrar o artigo do Professor João Duque, reitor do ISEG, publicou esta semana no Expresso: da análise que ele fez, conclui-se que “Nos períodos de florescimento económico é muito mais eficiente o estímulo do emprego por via do investimento.” Portanto, não estamos a criar emprego pela maneira mais eficiente, mas ao menos estamos a criar: os dados do INE revelam que o emprego remunerado aumentou 1,8% comparando com o mesmo trimestre do ano passado, crescimento esse que foi idêntico ao do trimestre anterior.

Está-se a resolver, aos poucos, o maior problema social do país (e eu que o diga). Mais emprego gera mais consumo das famílias e ajuda a situação financeira da segurança social, porque há mais pessoas a descontar e menos a receberem subsídios. Em última análise, mais emprego gera ainda mais emprego, num ciclo virtuoso. Não se pode é, para esse fim, desequilibrar as contas do Estado ou as contas com o exterior, com as consequências que todos conhecemos.