Editorial B.I: Aprender a amar

É inevitável. Mais ou menos românticos, todos nós, quando nos cruzamos com alguém que partilha a vida com outra pessoa há 20, 30, 40, 50 anos, em determinado momento da conversa questionamos qual o segredo. 

É inevitável. Mais ou menos românticos, todos nós, quando nos cruzamos com alguém que partilha a vida com outra pessoa há 20, 30, 40, 50 anos, em determinado momento da conversa questionamos qual o segredo. E se a conversa não se proporcionar a tal ousadia, acabamos a tentar analisar gestos, palavras, comportamentos. Sempre em busca da resposta à tal pergunta – lembro-me de a minha mãe me dizer várias vezes que o segredo era nunca ir dormir sem trocar um beijo. Penso que até o mais convicto dos solteirões já se viu nesta posição.

Há quatro anos, em 2012, fiquei siderada com uma entrevista dada pelo escritor Richard Zimler e o seu marido, o físico e, desde 2015, deputado pelo Partido Socialista Alexandre Quintanilha. Ao contrário da tradição portuguesa, nessa longa conversa com a jornalista Anabela Mota Ribeiro, o casal falava abertamente da sua relação e do seu amor. Várias vezes, nos últimos anos, sem razão aparente, dei por mim a rever essas palavras. Pela sua crueza e verdade.

Quando, esta semana e a propósito do seu mais recente livro, “O Evangelho Segundo Lázaro”, fui entrevistar Richard Zimler, fui com essa entrevista em mente, mas consciente de que esta seria obrigatoriamente uma conversa bem diferente. Para já porque Alexandre Quintanilha não estaria presente, mas sobretudo porque o foco da conversa seria o livro – o que me fez pensar que dificilmente Richard Zimler quereria alargar-se em considerações sobre o amor.

Estava enganada e percebi-o logo ao fim de poucas perguntas, quando o escritor, numa resposta, referiu com toda a naturalidade o seu marido, com quem partilha a vida há quase 40 anos. E depois fê-lo uma e outra vez, até que, já na reta final da entrevista, acabámos por falar justamente sobre amor. E, claro, em determinado momento, lá surgiu a pergunta. A resposta, apesar de partir de um singelo “não sei se há um segredo”, provou precisamente o contrário.

Há um segredo, e Zimler e Quintanilha sabem qual é. “Acho que tivemos sorte. Gosto dele e evoluímos juntos – acho que isso é importante. Qualquer casamento tem três elementos: eu, o outro e o casamento. Quem não valoriza essa terceira entidade não vai durar. Depois é preciso haver respeito”, diz. “Mas é preciso aprender a amar”, acrescenta.