Montenegro sai da liderança da bancada em 2017

Se o PSD cumprir o calendário regulamentar, a bancada tem de escolher um novo líder em novembro. No próximo ano, os sociais-democratas vão ter um último trimestre mais eleitoral.

Em 2017, haverá mesmo outra eleição na vida do PSD que não as autárquicas. Luís Montenegro chega ao fim do terceiro mandato consecutivo como líder do grupo parlamentar e, segundo o regulamento da bancada, tem de dar lugar a outro deputado social-democrata.

Não havendo acumulação de vice-presidências do partido com vice-presidências de bancada e tendo o líder parlamentar inerência na comissão permanente de Pedro Passos Coelho, seria natural que Montenegro permanecesse como protagonista da direção, assumindo a vice-presidência deixada vaga por Jorge Moreira da Silva. O antigo número dois de Passos rumou a um cargo internacional na OCDE.

O processo dar-se-á no último trimestre do próximo ano, mas já há movimentações na bancada. Luís Marques Guedes, que já desempenhou o papel e possui um perfil institucionalista consensual, é falado por uma fação mais distante da direção. Marques Guedes serviu como ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares durante o governo de Passos Coelho e mantém boa relação com o líder; fonte da bancada afirma, nesse sentido, que Marques Guedes «nunca avançaria contra alguém preferido por Passos, mas seria uma escolha com sentido».

Por outro lado, numa lógica de renovação geracional, os favoritos seriam Hugo Soares, atual primeiro vice da bancada e próximo de Montenegro, ou António Leitão Amaro. Em entrevista ao SOL, no passado fim de semana, Hugo Soares recusou alongar-se sobre o tema, lembrando somente: «nunca me sento sequer na cadeira de Luís Montenegro».

Unanimidade desejada

Todavia, ao que o SOL apurou, Marco António Costa também vem sendo considerado. O nortenho, vice-presidente do partido mas algo longínquo da linha da frente dos sociais-democratas, ganharia deste modo novo destaque. Uma parlamentar diz ao SOL que a grande vantagem de Marco António seria «ninguém candidatar-se contra ele».

O SOL sabe que o partido não planeia alterar as normas regulamentares que implicam a saída de Luís Montenegro da liderança de bancada e uma antecipação da votação só ocorreria se o próprio se demitisse.

Unanimidade relembrada

Cada mandato de liderança parlamentar tem um período de dois anos de duração e Luís Montenegro foi pela primeira vez eleito presidente de bancada em junho de 2011, depois da vitória do PSD contra o PS de Sócrates, sendo pela primeira vez reeleito em Outubro de 2013 e pela segunda vez em Novembro de 2015.

Montenegro concorreu sempre como candidato-único – um cenário preferido pela direção de Passos –, reunindo da última vez uma percentagem de 97,5 votos favoráveis dos deputados sociais-democratas.

Se a bancada do PSD cumprir o calendário escrupulosamente, a votação interna realizar-se-á no mês de novembro, em plena ‘ressaca’ das eleições autárquicas do próximo ano, que estão apontadas para outubro.

De acordo com o regulamento interno do grupo parlamentar, as direções da bancada são eleitas pelo «método maioritário, com o mandato de duas sessões legislativas completas».

No ponto seis do documento lê-se: «A elegibilidade do Presidente do Direção do Grupo Parlamentar fica limitada a três mandatos consecutivos».

Águas passadas

Curiosamente, Luís Montenegro foi pela primeira vez recrutado para a linha da frente da bancada social-democrata por Pedro Santana Lopes, durante o consulado de Santana à frente do grupo parlamentar do partido quando Luís Filipe Menezes era líder do PSD, mas não se encontrava eleito deputado. Assim, entre 2007 e 2008, Santana Lopes teve Luís Montenegro como seu vice de bancada, tendo Montenegro apoiado Santana nas eleições diretas para a liderança em 2009. Aí, foi Manuela Ferreira Leite que ficou presidente do PSD e Montenegro acabou por fazer uma lista ao Conselho Nacional do partido sem Pedro Santana Lopes. Ainda mais curioso é os destinos dos dois sociais-democratas andarem novamente entrelaçados: ambos têm sido reportados como potenciais sucessores à direção de Pedro Passos Coelho.

Por agora, para 2017, os únicos dados garantidos na família social-democrata são as eleições autárquicas e a votação para uma nova liderança de grupo parlamentar.

Até lá, «ainda passará muita água debaixo da ponte», aponta fonte próxima da direção. Mas o certo é que a corrente vai-se apressando.