Ken Loach. Cine-socialismo basta

“Eu, Daniel Blake”, agora nas salas, seria sozinho um bom presente de Ken Loach (ao cinema e a nós) pelos seus 80 anos, completados à beira da estreia em Cannes, que lhe deu a Palma de Ouro com o que será um dos mais perturbadores dos seus filmes. Espécie de “Cathy Come Home” deste século,…

Poor Cow

O filme que depois do sucesso na televisão marca a estreia de Ken Loach no cinema, em 1967, é uma viagem à Londres do final da década de 60, através da história de Joy (Carol White), uma jovem mãe de 18 anos com a vida virada do avesso com o seu marido, Tom (John Bindon), e Dave (Terence Stamp), um dos seus parceiros, presos. Livremente adaptado por Loach da obra homónima de Nell Dunn, inspirado em Carol White, que o realizador havia conhecido em “Cathy Come Home”, produzido um ano antes para a BBC.

Os Dois Indomáveis

Pela primeira vez em cópia digital na Cinemateca, “Kes”, considerado uma das obras maiores de Ken Loach, deu em português “Os Dois Indomáveis”. A história de uma criança com o seu falcão – Kes – numa região mineira do Yorkshire, uma das zona mais pobres do Reino Unido, quando muitas minas estavam a encerrar, serve aqui o realismo que ainda hoje continua a caracterizar a obra do realizador saído da escola que o fez na BBC, ao lado de nomes como Peter Watkins. 

Agenda Secreta

Thriller político sobre a violência na Irlanda do Norte que marcava a viragem para a década de 1990, com o foco não só nos atos terroristas praticados por grupos como o IRA mas também na resposta que vinha das forças de segurança britânicas, com o então chamado terrorismo de Estado. “Hidden Agenda”  centra-se na investigação do homicídio de um advogado americano ativista pelos direitos civis na Irlanda do Norte.

Riff-Raff

A história de um ex-recluso escocês que encontra trabalho nas obras de conversão de um antigo hospital num luxuoso condomínio de habitação foi em 1991 o ponto de partida de Ken Loach para mais uma espécie de crónica sobre a vida das classes mais desfavorecidas no Reino Unido, aqui com o foco na intensificação do processo de gentrificação com que os londrinos se deparavam então. “Riff-Raff” foi distinguido com o prémio FIPRESCI em Cannes e Filme Europeu do Ano nos European Film Awards.

Chuva de Pedras

A lista de prémios em Cannes é longa para Ken Loach e “Raining Stones” é uma das obras dessa lista, com o Prémio do Júri em 1993. Desta vez em Manchester, o realizador parte da história de um pai que, sem dinheiro para pagar o vestido da Primeira Comunhão da filha, se vê obrigado a aceitar trabalhos questionáveis. O desespero de Bob (Bruce Jones) leva-o a pôr em causa os seus valores, a sua família, a sua própria salvação, em mais um retrato de Loach das classes britânicas mais desfavorecidas.

Ladybird, Ladybird

Haverá em “Eu, Daniel Blake” algumas reminiscências deste “Ladybird, Ladybird”. É ela uma mulher com quatro filhos de quatro pais diferentes e um historial de perturbações mentais, como Daniel, em luta contra o sistema, aqui contra os serviços sociais britânicos pela recuperação da custódia das crianças, num filme que Loach aproveita para tocar também o tema da imigração, pelo relacionamento de Maggie (Crussy Rock) com um paraguaio.

O Meu Nome é Joe

Joe (Peter Mullan) é um alcoólico em recuperação desempregado que conhece Sarah (Louise Goodall) e isto pode ser o princípio de uma história de amor que é o mesmo que dizer o princípio de um filme qualquer. Mas isto acontece em Glasgow, num dos bairros mais duros de Glasgow, justamente onde Ken Loach recrutou uma série de não-atores para os papéis secundários. Considerado um dos melhores filmes da fase mais recente do realizador britânico, “O Meu Nome é Joe” deu em 1998 a Mullan (“Trainspotting” e “Cavalo de Guerra”) o prémio de Melhor Ator em Cannes.

It´s a Free World 

Depois de perder o emprego por má conduta na empresa de recrutamento em que trabalhava, Angie (Kierston Wareing) tem a ideia de montar a sua própria empresa, que gere com a ajuda de uma amiga a partir da cozinha da sua casa, aproveitando-se do desespero em que vivem muitos imigrantes. Escrito por Paul Laverty, que assina também “Eu, Daniel Blake”, “It’s a Free World” venceu em 2007 o prémio de Melhor Argumento em Veneza.

O Meu Amigo Eric

Steve Evets é Eric Bishop, um adepto do Manchester United (e fã de Eric Cantona, que a propósito integra o elenco fazendo de si próprio) que numa fase difícil da vida se deixa levar por um grupo de pequenos gangsters. Em “Looking for Eric” (“O Meu Amigo Eric”) Loach aponta a objetiva para a realidade da reality TV e do culto às celebridades numa reflexão sobre as tendências mediáticas deste tempo a que chegámos.

O Espírito 45

Neste que é um dos seus filmes mais recentes, e que marca o seu regresso ao documentário, Ken Loach recua até ao pós-II Guerra Mundial, anos fundadores do Estado Social no Reino Unido, para a partir daí traçar uma história da política briânica desde esse tempo até à atualidade. “Filme combativo, que tanto evoca o nascimento dos pilares do Estado Social como a crescente falta de vontade política para o manter."