A incrível vitória de Jerónimo de Sousa

Não foi fácil a Jerónimo de Sousa chegar aqui. Há um ano, um grupo de dirigentes comunistas começou a preparar a sua sucessão. O cansaço evidenciado durante a campanha para as legislativas era a gota de água. O grupo não era assim tão pequeno – e se Jerónimo deixasse e se conformasse com a ideia…

Mas vai ser. Porque ganhou uma guerra interna, que não terá sido fácil, contra o grupo que achava que o PCP deveria neste Congresso passar o cargo de secretário-geral para uma nova geração. Foi notável a capacidade de resistência de Jerónimo de Sousa que fez o que os comunistas nunca fazem: foi dizendo alto e bom som que não estava disposto a ser um cordeiro sacrificial, depois de ter conseguido levar o Partido Comunista a apoiar a solução de Governo PS.

Estou aqui para as curvas foi a frase mais interessante dita por Jerónimo quando foi interrogado, numa entrevista ao i, sobre a possibilidade de abandonar a liderança. Estávamos a um mês das eleições, 4 de setembro de 2015, e Jerónimo afirmou: «Estou aqui para as curvas mas isto não é eterno. Por mim estou em condições de continuar, embora com esta ideia: um dia sairei desta responsabilidade, enquanto tiver capacidade para decidir também e para fazer esse juízo de valor». Foi o primeiro sinal de Jerónimo de Sousa de que não estava nos seus planos abandonar a liderança. Mas depois da campanha ter revelado que Jerónimo se encontrava relativamente fragilizado as campainhas começaram a tocar alto na Soeiro Pereira Gomes.

Segue-se uma entrevista ao Expresso, onde Jerónimo admite que no congresso «poderá haver uma alteração na liderança» mas também deixa claro que não é por sua vontade que sairá do cargo. Basicamente, estava ali para as curvas. 

Na Renascença, em janeiro, Jerónimo decide dizer tudo  o que lhe ia na alma. O PCP poderia querer corrê-lo, mas ele daria luta. «Eu não quero fazer elogios em boca própria, mas olhe que o sentimento que eu tenho, das deslocações que faço, se eu fizesse uma leitura pessoal tiraria uma conclusão que os meus camaradas de partido, os amigos do partido e muita gente mesmo que não é do meu partido, consideram que eu devia continuar. Mas isto, como digo, é sempre uma decisão do Comité Central». E será.