«A vida é uma doença sexualmente transmissível»

Esta frase, tão irónica quão verdadeira, cruzou o caminho da minha amiga Ângela em Alenquer.

Realmente, quando pensamos em doenças sexualmente transmissíveis não pensamos na vida, até porque a vida não é uma doença. Mas, no fundo, se pensarmos no assunto, a vida transmite-se no ato sexual. E a vida é, para muitas pessoas, uma doença, quase como um castigo, como uma segunda pele, que se cola ao corpo e não se consegue despir, por mais que se tente. Infelizmente, muitas são as pessoas que sentem o mesmo que Ricardo Reis: «vivo uma vida / Que não quero nem amo».

Trata-se, pois, de uma afirmação muito curiosa, simultaneamente sarcástica e cruel. Mas, tomando este ponto de partida como verdadeiro, podemos concluir que a vida também se pega por contacto não sexual. A vida é contagiosa. Quando vemos alguém muito alegre ou muito triste, o sentimento muitas vezes contagia-nos e também nos sentimos alegres ou tristes. Sobretudo a alegria, quando bem vivida, é altamente contagiosa.

E isto é bem visível num espetáculo de humor. As gargalhadas são contagiosas, o sorriso é contagioso, a alegria é contagiosa.

O humor é, muitas vezes, um excelente remédio. Um exemplo óbvio é o trabalho desenvolvido pela Operação Nariz Vermelho, que melhora a boa disposição e, consequentemente, a saúde de tantas crianças nos hospitais pediátricos. Uma pessoa bem-humorada sofre menos, porque produz mais endorfinas e, consequentemente, aumenta a capacidade de resistir à dor.

E a alegria é efetivamente contagiosa, mesmo que momentaneamente, pois, como diz António Gedeão, «Construo o meu real / conforme me apetece.» E, se sou eu que defino o que quero ou não fazer da minha vida, sou eu que construo o mundo à minha volta.

Mas, na realidade, será assim? Que interessa tudo isto?

 

Maria Eugénia Leitão

Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services