Assinaturas para Rio em marcha

A recolha de assinaturas nas bases do PSD para provocar uma clarificação está em marcha. Os agentes ativos são apoiantes de Rui Rio de Norte a Sul do país. O PSD voltou aos bons velhos tempos em que todos conspiram contra todos entre almoços, jantares, telefonemas e SMS.

As assinaturas de militantes estão a ser recolhidas. Bastam 2500 para provocar um congresso extraordinário que, não tendo o poder de eleger um novo líder, pode constituir um desafio enorme à liderança de Passos Coelho. 

Vêm de vários lados os militantes que estão a recolher as assinaturas, nomeadamente de Lisboa. No entanto, alguns defensores da candidatura de Rui Rio hesitam sobre qual será o timing certo: foçar uma clarificação já ou esperar pela anunciada derrota de Passos Coelho nas autárquicas – e ao mesmo tempo poupar Rui Rio de se confrontar com esse cenário, caso fosse eleito líder antes das eleições para as câmaras. 

Não é fácil derrotar um líder em funções que apenas tem a obrigação de ir a votos no início de 2018. Os apoiantes de Rui Rio contam com o “efeito Seguro” para acelerar os calendários – Seguro também não era obrigado a aceitar o confronto que António Costa lhe fez em 2014, mas achou que não tinha outra saída senão forçar a clarificação – e marcou não só um congresso como também umas eleições primárias que, por ironia do destino, acabaram por reforçar a eleição de Costa. Resta saber se Passos seguirá o exemplo do seu amigo António José Seguro. A alternativa ao dispor da oposição interna para derrotar Passos contra a sua vontade é fazer aprovar uma moção de censura no Conselho Nacional. 

Ao nosso amigo Rio

Guterres tinha um sótão, Rio teve uma cave. Foi em Sangalhos, nas Caves Aliança, que Rui Rio se reuniu com próximos políticos e amigos empresários. 

Foi Nélson Fernandes, um homem de negócios madeirense, o anfitrião. Fernandes, de ótima relação com Rio, costuma reunir amizades anualmente num almoço natalício. 

Das personalidades ligadas ao PSD, contaram-se dirigentes, militantes e simpatizantes, entre os quais Salvador Malheiro – presidente da distrital de Aveiro –, Rui Rocha, que é presidente da distrital de Leiria, e o deputado parlamentar Bruno Coimbra. 

Salvador Malheiro introduziu a reunião como «um almoço de amigos», mas uma voz mais grave levantou-se na sala: «Temos que dar força ao nosso amigo Rio».

Relvas com Montenegro

O homem que colocou Passos Coelho no poder – devido à sua fortíssima influência no aparelho do partido – está hoje a trabalhar para a candidatura do líder parlamentar, Luís Montenegro. Mas tanto Relvas como Luís Montenegro – ou Marques Mendes, outro dos apoiantes do líder parlamentar – defendem que só depois das autárquicas e da possível demissão de Pedro Passos Coelho, o processo de sucessão se deve desencadear. Ou seja: apesar da candidatura de Luís Montenegro já estar no terreno, o líder parlamentar não quer ser um candidato contra Passos Coelho. E prefere esperar por uma demissão do líder para avançar. Apesar de se ter demitido do Governo na sequência dos problemas da licenciatura, Relvas tinha um grande poder junto do ‘PSD profundo’. Se esse poder se mantiver, a vida de Montenegro pode estar mais facilitada. 

E, depois, há Pedro Santana Lopes que, como o SOL revelou, continua a pensar na liderança do PSD. Em entrevista ao Expresso, Santana confirmou que não punha de parte um regresso a um lugar onde por acaso foi bastante infeliz. 

Velha guarda mais longe

Pedro Passos Coelho e Marcelo Rebelo de Sousa andam de relação azedada desde o 1º de dezembro, em que o Presidente da República criticou o Governo liderado pelo líder do PSD por suspender o feriado, entre outras referências sérias sobre «submissões» e «independência financeira». Passos, que não foi às celebrações do feriado, afirmou três dias depois: «Ainda bem que [Marcelo] não é presidente do PSD». O Presidente da República – ele próprio um antigo líder do Partido Social Democrata – respondeu que «ainda bem que o PSD está bem entregue» e que um Chefe de Estado não pode ter «preferências» nem «amuos».

Também houve direito a troca de indiretas com outro histórico dos sociais-democratas. Marques Mendes, no seu comentário televisivo semanal, defendeu que a situação do PSD para as eleições  autárquicas de 2017 «não está fácil», na medida em que o partido incorre em três possíveis cenários e que dois deles – apoiar Assunção Cristas ou um apresentar um candidato «frouxo» – corresponderiam a uma «humilhação». 

Passos, logo no dia a seguir, reagiu. «Perdemos o Porto há três anos e há três anos continuámos sem ganhar a Câmara de Lisboa, que perdemos quando o doutor Marques Mendes era presidente do PSD», relembrou oportunamente. 
José Miguel Júdice também alertou, na sua opinião semanal: «Santana está seriamente a pensar em ser candidato à liderança do PSD depois da provável derrota autárquica de Pedro Passos Coelho». 

Outro senador social-democrata, reservado ao anonimato, apontou ao SOL que «Passos devia tentar capitalizar o facto de ter um Presidente da sua família política em Belém, mesmo que, assumidamente, não tenha sido a sua preferência». «Colocar-se numa posição de confronto com um Presidente com esta popularidade só se prejudica a si mesmo; perde sempre». Questionado sobre as razões deste distanciamento, a fonte justifica-o com «antecedentes históricos e de natureza pessoal». «Não tem nada ver com questões ideológicas», terminou o veterano do PSD. 

A desavença, oriunda desde um congresso em 1996, agravou-se graças a uma moção de estratégia em que Passos excluía quase assumidamente Marcelo Rebelo de Sousa da candidatura presidencial, em 2014. Para Passos Coelho, o candidato ideal não se comportaria «como um catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político», não devendo «buscar a popularidade fácil» nem «colocar-se contra os partidos ou os governos como se fosse apenas mais um protagonista político na disputa política geral». 

Marcelo acabaria por ser o candidato e venceria com maioria à primeira volta.

Ao que o SOL apurou, os membros da direção passista não esquecem as duras críticas que Marcelo lançava semanalmente ao governo PSD/CDS. A situação levou mesmo Santana Lopes a comparar a ação do companheiro de partido ao que fizera com o seu governo: «tudo para deitar abaixo».