Aprendizes de feiticeiro, que não pagam as contas

Segundo o Diário de Notícias, as perdas potenciais de empresas do sector empresarial do Estado com produtos financeiros atingiram os 2.500 milhões de euros no final de junho, um agravamento de 107 milhões de euros face ao trimestre anterior. Só no Metropolitano de Lisboa e na Metro do Porto os prejuízos potenciais ultrapassa os 1.000…

Sobretudo, tratam-se de SWAPs. Portanto, a primeira questão é: o que é um SWAP?

Como o nome indica, trata-se de um instrumento financeiro que permite trocar uma coisa por outra. Um dos mais simples é um SWAP de taxas de juro, em que (por exemplo) você recebe dinheiro se as taxas de juro subirem, mas tem de pagar se as taxas descerem. Claro, isto é vendido pelo banco como “proteção contra as subidas das taxas de juro”. O pior é se as taxas de juro, em vez de subirem, como se estava à espera que acontecesse, descem, como de facto desceram. Nesse caso, a entidade que comprou o SWAP tem de pagar ao banco. O que muitos diretores financeiros de empresas públicas não terão compreendido é que não se estavam a proteger contra o que quer que fosse; de facto, estavam a apostar na subida das taxas de juro. Portanto, o que é bom para o Estado – taxas de juro reduzidas – é mau para as suas empresas públicas, das quais somos acionistas.

Outro dos SWAPs mais comuns é o das taxas de câmbio: aposta-se, por exemplo, na apreciação ou na depreciação do dólar americano contra o euro. Mais uma vez, o que é vendido como proteção é somente especulação.

Depois, pode-se fazer SWAP’s misturando no mesmo instrumento taxas de juro e de câmbio, sendo por isso mais complexos. De facto, na criação de SWAPs, não há limites para a imaginação.

Em Portugal, já houve um tribunal que desobrigou uma pequena empresa a pagar o que devia por um SWAP, aceitando o argumento que esse instrumento financeiro era demasiado complexo para que a empresa entendesse o que estava a comprar. Existem quatro empresas portuguesas que estão a processar o banco Santander pelo mesmo motivo, mas esse processo corre nos tribunais ingleses, à partida mais habituados a julgar processos financeiros, o que a meu ver é mais favorável ao Santander.

Voltemos ao início: as perdas potenciais das empresas públicas portuguesas com instrumentos derivados, como SWAPs, totalizam 2.500 milhões de euros, cerca de 1,5% do PIB. Ou seja, enquanto fazemos todo o tipo de sacrifícios, os diretores financeiros dessas empresas puseram-se a especular com derivados financeiros, provavelmente sem saberem muito bem o que estavam a fazer. Os mercados financeiros são um mundo, dividido em vários submundos, e é preciso um grande grau de especialização para tentar ganhar dinheiro. Especialização essa que os referidos diretores manifestamente não tinham, o que não os impede de irem para casa com os seus salários milionários e sem qualquer penalização jurídica, cível ou mesmo criminal. Às vezes, Portugal é uma vergonha.