«O que é que isso interessa?»

Esta pergunta, também numa parede de Alenquer, pode querer significar múltiplas interrogações. O autor pode querer perguntar o que é que tudo o que existe interessa, ou que interesse tem algo que ouviu, leu ou de que ouviu falar.

Na realidade, se nos questionarmos de forma global, o que interessa realmente? Que interesse tem a vida, que interessa aos outros aquilo que cada um de nós faz? – Se interpretarmos esta questão na parede desta maneira, estaremos a dar forma a uma expressão muito desesperada, com muito pouco interesse na vida. Se este for o modo como encaramos a vida, o mundo, os outros, estaremos a desperdiçar tempo de vida, porque, então, nada nos interessará, nem a própria vida.

Por outro lado, se nos interessarmos pelos outros, apenas como fonte de distração, querendo saber o que fazem, onde vão, como se vestem, de quem são amigos; se virmos a vida dos outros como um «reality show», que nos interessa apenas para nos distrair da miséria das nossas próprias vidas, então, seremos, como afirma Ary dos Santos, alguém que «Nasce do estrume e vive para o estrume».

Pelo contrário, se, nos outros, tudo nos interessar exceto o que só aos outros diz respeito – a sua intimidade –, estaremos, então, realmente a viver a vida e a aproveitar aquilo que nos foi dado e que, para quem não acredita na reencarnação, só nos é dado uma única vez.

Interessarmo-nos verdadeiramente pelos outros é aproveitar, de facto, a oportunidade que temos de beneficiar dessa interação. E isto porque é quando me interesso por quem os outros são, por aquilo que me ensinam, por aquilo que me transmitem que, efetivamente, começo a conhecer o mundo e começo a conhecer-me a mim, na relação que com eles estabeleço, nos laços que com eles crio, ou nos muros que entre mim e eles construo.

É, pois, na relação com os outros que faz sentido viver e desejar: «Feliz Natal»!

 

Maria Eugénia Leitão

Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services