Passos e os Reis Magos

O político mais infeliz do momento é Pedro Passos Coelho.

Isolado da grande coligação nacional Governo PS com apoio parlamentar do PCP e do Bloco de Esquerda e da alegria contagiante do Presidente da República, ficou sozinho a sustentar os ideais do anterior Governo, já que Paulo Portas foi à sua vida e Assunção Cristas mantém por enquanto o benefício da dúvida que assiste a todas as novidades. É verdade que Passos continua a acreditar profundamente na sua narrativa, mesmo quando os factos diários a vão desmentindo. Todos os líderes da oposição vivem momentos de travessia no deserto mais ou menos deprimentes – que o digam Vítor Constâncio, Jorge Sampaio, António Guterres, José Manuel Durão Barroso, Manuela Ferreira Leite, António José Seguro e até o próprio António Costa que não descolou ao ponto de ter ficado em segundo lugar nas eleições que era suposto ganhar com maioria absoluta. Passos Coelho, quando sucedeu a Ferreira Leite na liderança do PSD, não teve que penar dessa maneira – Sócrates já estava em queda livre quando Passos assume o poder no PSD. O calvário por que passam todos os líderes da oposição está Passos a vivê-lo agora, depois de já ter sido primeiro-ministro. É mais doloroso porque a experiência do poder já é conhecida e porque na realidade Passos é hoje um homem bastante só.

As autárquicas não vão ajudar. A ideia de que Passos Coelho poderia ser candidato a Câmara de Lisboa, meses depois de Assunção Cristas ter anunciado a candidatura, só pode vir de quem quer ver o líder cozinhado em lume brando. Na verdade, quando Jorge Sampaio fez isso em 1989 – depois de ter ouvido as recusas de todos os seus generais – tinha um coelho na cartola, a coligação com o PCP que lhe permitiu ganhar as autárquicas a Marcelo Rebelo de Sousa. Além de que Sampaio chegou depois de anos e anos do domínio da CML pela direita, liderada pelo centrista Nuno Krus Abecasis. Uma candidatura de Passos Coelho neste momento era uma oferta sacrificial. Apoiar Assunção Cristas é humilhante, mas entre uma decisão má e uma decisão péssima, o presidente do PSD é capaz de não ter escolha.

Passemos aos Reis Magos. No jantar de Natal da última quinta-feira, Passos Coelho decidiu criar um tabu curioso. Depois de ter glosado a questão do diabo, afirmando que lhe colocaram na boca coisas que não quis efetivamente dizer, lançou agora uma charada para a opinião pública. Em janeiro, vem aí os três Reis Magos. Arrisque-se uma previsão. Com o PSD em polvorosa e a viver na conspiração permanente, Passos vai ajudar a que os alegados Reis Magos se candidatem à liderança do PSD. Vem aí congresso convocado pelo líder.