Ana Margarida de Carvalho. “Escrevi os meus romances em segredo”

Bastaram dois romances para fazer da escritora um dos nomes mais seguros da ficção nacional

O que fica deste esforço além dos papéis pintados com tinta – sejam jornais, revistas ou mesmo livros -, o que podem hoje as palavras fazer contra o curso de um mundo que parece incapaz de tapar o ralo por onde tudo se escoa indistintamente? Ana Margarida de Carvalho deu um quarto de século da sua vida ao jornalismo. Na “Visão” fez de tudo, desde repórter a crítica de cinema; foi editora, assinou crónicas e reportagens, algumas das quais receberam dos mais prestigiados prémios do jornalismo. Isso não impediu que o fim fosse outra coisa que não “o mais inglório”, sozinha perante um diretor de recursos humanos. 

A romancista, que foi uma das grandes revelações da literatura portuguesa nos últimos anos, conseguiu pelo menos cravar um último espinho com o seu desabafo na página pessoal do Facebook, obtendo grande repercussão nas redes sociais. 

Com o romance de estreia, “Que Importa a Fúria do Mar” (livro que tinha sido finalista do Prémio Leya), Ana Margarida de Carvalho venceu o Grande Prémio de Romance e Novela APE/DGLB. Agora está no desemprego, e não sabe bem que capítulo se seguirá na sua vida profissional. Garante que a denúncia da forma como se viu “destratada e desconsiderada e humilhada e coagida a assinar um contrato de rescisão, tudo menos amigável” foi uma forma apenas de dar o assunto por encerrado. De tudo o que a apanhou desprevenida, não deixa escapar a ironia do seu sucesso enquanto romancista ter muito provavelmente acabado por condená-la. 

Em 2013, quando publica o primeiro romance, tinha que idade?

Tinha 39 quando o escrevi. Demorou um ano e tal a ser publicado.

Já tinha havido outros manuscritos?

Não, não tinha absolutamente nada. O que tinha mais próximo da ficção eram as crónicas, naquele meio termo em que nos distanciamos do jornalismo e nos servimos de uma subjetividade que nos leva para esses terrenos a que hoje chamam autoficção. Tinha guiões de cinema, uma peça de teatro, mas nada firmemente no campo da ficção.

“Que Importa a Fúria do Mar” é a sua primeira tentativa de escrever um romance?

Sim.

Mas o romance não era um horizonte que tinha já traçado?

Não. Estava muito mais interessada na área do documentário. Tinha guiões que tiveram o apoio do ICA. Na altura era bom dinheiro, mas nunca consegui passar o concurso para a realização. Nos concursos para escrita/guião ganhei uns três, mas para a realização faltava-me currículo.

E por que é que aconteceu o primeiro livro?

Não partiu de mim. Um dia, o Rui Breda [responsável pela comunicação da Leya] telefonou-me, em nome da Maria do Rosário [Pedreira, editora], porque estavam à procura de novos escritores e tinham lido uma reportagem de que tinham gostado, e desafiaram-me.

E concebeu primeiro a estrutura do romance ou deixou-se levar pelo ímpeto da escrita?

O primeiro foi um pouco mais arrumado do que este [“Não se Pode Morar nos Olhos de um Gato”, segundo romance, publicado este ano]. Foi um livro um pouco mais estruturado, mas depois as coisas tomam o seu rumo. O ato mais inspirador da escrita é a própria escrita. 

Até aqui vinha encontrando afinidades com os escritores portugueses da sua geração?

Parte da minha atividade jornalística foi na área cultural, entrevistei muitos escritores e sempre acompanhei o que ia sendo publicado. Tendo feito parte do júri do Prémio Pen Club, li boa parte da literatura lusófona publicada em 2015. Há coisas muito fortes que não estão a ter repercussão, não só porque os media estão desfasados  ou desinteressados, mas porque as próprias editoras apostam no cavalo errado. Muitas vezes preocupam-se mais em seguir os ventos do mercado do que apontar caminhos, defendendo a qualidade. Agora que li de forma intensiva e extensiva o que foi feito em 2015 tive essa noção de que há livros fantásticos que não tiveram o menor eco. E um livro sem eco está condenado a desvanecer-se semanas depois de aparecer nas livrarias.

Qual foi o livro que premiaram na categoria de romance?

Foi um livro de um cabo-verdiano, ex-ministro da Cultura, que se chama Mário Lúcio Sousa, com o romance “Biografia do Língua”. Ele é mais conhecido como músico, mas tem uma escrita diferente, muito empolgante, mas passou completamente despercebido.

Cresceu na casa de um escritor [Mário de Carvalho], rodeada de livros. Lembra-se de acompanhar o que fazia o seu pai e de se projetar nisso?

Se calhar, por isso mesmo, nunca sacralizei os livros. Os livros andavam por ali em casa aos pontapés, acessíveis a mim, à minha irmã [Rita Taborda Duarte]. Nunca nada nos foi proibido e, portanto, é um pouco como os miúdos que se habituam a ver os pais na televisão, assumem que é normal todos os pais aparecerem na televisão. Para mim era uma coisa banal, à qual não atribuía nenhum valor especial. 

E, do lado dele, houve alguma curiosidade especial em ler a filha que se revela tardiamente como romancista?

Tinha a minha irmã, que preenchia já essa quota literária da família. O meu avô também era poeta, e a minha irmã começou a fazer poesia desde cedo, como fez muitos livros infantis. Portanto, foi ela quem precocemente manifestou esse apelo. Se havia uma expectativa era em relação a ela.

Mas agora há os dois romances. Publicados estes livros, qual foi a reação?

Escrevi-os em segredo, não contei a ninguém e fiz até a proposta à Maria do Rosário Pedreira de publicar sob pseudónimo. Não queria nem associações ao meu pai, nem à minha atividade jornalística. Até porque não fazia ideia… E se isto for uma porcaria? Não estava com vontade de ser trucidada pela crítica.

A sensação que tive na leitura deste segundo romance foi de que estava perante uma escrita para adultos. E esse parece-me ser o grande óbice da literatura contemporânea portuguesa, em que nos vemos muitas vezes perante uma escrita para um público infantojuvenil embora com um especial investimento barroco na linguagem. 

Sou muito adulta, a verdade é essa. Não sou muito sentimental, nem me comovo muito comigo própria, e não me interessa por aí além falar da minha vida. Ou da vidinha, como lhe chamava o O’Neill. Sempre ouvi esse lema, e não sei bem como é que ele o dizia, mas sempre me ficou essa ideia: “Nunca contes a vidinha”.

No seu romance não me parece que o olhar esteja enternecido consigo mesmo. Há alguma secura, firmeza. Mencionou já a admiração por Cardoso Pires, e a sensação é de que ultimamente poucos têm reclamado essa lição de seriedade e apuro.

Essa tentação de me enternecer comigo própria, de me rir ou chorar com as minhas personagens, isso não tenho de todo. Pode ser uma questão de personalidade. Em relação ao Cardoso Pires, o que sinto é uma enorme veneração. Ele é o oposto daquilo que eu escrevo, porque o que ele consegue, numa frase, é ser absolutamente preciso, quase com uma exatidão matemática, e escrever, como ele chamava, uma escrita no osso. Ou seja, tirar todas as redundâncias, todas as gorduras. Andava à caça dos adjetivos desnecessários, raramente usava advérbios… A minha escrita é o contrário, vai à procura daquilo que quer dizer, o que pode parecer uma redundância mas é também um desespero.

Se há essa procura há também uma plasticidade da língua em que se coloca no limite entre narrativa e poesia. Também me interessa pelo contraponto face a autores como Valter Hugo Mãe ou mesmo Afonso Cruz, em que esse enternecimento com a linguagem e auto deslumbramento chega a um ponto em que ao ler os romances parecem querer um leitor de 12 anos.

Sim, mas o próprio Afonso diz que nunca sabe quando está a escrever se o faz para crianças, adolescentes ou para adultos. Acho que ele assume isso. O que acho realmente preocupante é que um escritor se deixe rebaixar em função da acessibilidade dos seus livros, para alinhar num facilitismo e assegurar a vendabilidade dos seus livros. Isso é que acho que um escritor não tem o direito de fazer. Mas cada um faz o que pode, e como pode. Se eu soubesse escrever como o Cardoso Pires… Quem me dera. O escritor acaba por andar à volta das suas próprias limitações e circunstâncias. O que tem acontecido é que vivemos num ambiente em que tudo está sujeito a uma infantilização. Há uma grande infantilização dos públicos todos, o que leva a confusões gravíssimas.

Sente o mesmo no jornalismo?

Há uma grande infantilização da linguagem. Ao embarcarmos nesse raciocínio de que é preciso tornar a linguagem o mais fácil e imediata possível, que se pusermos palavras difíceis as pessoas vão desistir porque não vão compreender, estamos a ser de uma arrogância enorme. De resto, é uma coisa que no jornalismo nos obrigam constantemente a fazer. Com um paternalismo inaceitável, dizem-nos que o leitor não vai perceber. Temos de ser muito diretos, usar palavras óbvias… E não temos, não devemos.

Tudo tem de ser de um didatismo primário.

Isso é estar a considerar os leitores seres inferiores, incapazes de compreender. Como se só entendessem a literalidade. E isso depois tem custos. O facto da literatura, do jornalismo de imprensa e televisivo ser cada vez mais infantil leva a que as bitolas baixem, e de facto as pessoas ficam infantilizadas, e começam a reger-se por esse padrão, e depois, mesmo sem querer, tornam-se incapazes de perceber uma ironia, ou qualquer coisa acima do literalismo. É aquilo a que se assiste cada vez mais nas redes sociais. Ali tudo o que se diz acaba por ser levado à letra, e parece que não se pode passar uma ideia ao nível do subtexto. Isto tem custos até eleitorais. 

E os leitores que culpa têm?

Há uma culpa que é partilhada com os leitores, os consumidores de jornais e televisão que aceitam o básico, e isto leva-nos à história da rã que se vai deixando cozinhar lentamente, e talvez tenhamos hoje chegado ao ponto de termos uma rã em estado de coma.

Porque é que os seus romances recuam tanto no tempo? Isto prende-se com as leituras que mais a influenciaram?

Sim, acho que todos nós somos aquilo que lemos. Acho que as nossas experiências mais importantes às tantas foi acompanhar o Capitão Ahab e darmo-nos conta de que a necessidade de vingança nas páginas do Moby Dick é uma experiência mais vital do que quase tudo o que nos aconteceu. Apesar de todos os anos a trabalhar como jornalista, e de ter passado por muitas coisas que foram importantes como experiência de vida, penso que algumas das experiências mais marcantes da nossa vida vêm das leituras que fizemos. Não precisamos de ter um amor de perdição, e ainda bem. Podemos testemunhá-lo em Shakespeare ou no Camilo. Não precisamos de ler tudo sobre as invasões napoleónicas na Rússia, mas podemos ler o “Guerra e Paz”, que é uma óptima maneira de falar com os mortos sem termos de frequentar os cursos da Alexandra Solnado. Pelos vistos é possível continuar a comunicarmos, a questionarmo-nos… Porque é que o Hamlet não matava o tio? A Capitu do Machado de Assis traiu ou não o Bentinho? Passam séculos e continuamos em diálogo com estes autores do passado. Que são os clássicos, aqueles que não passam.

Não lhe parece que a partir de certa altura o discurso tem vindo no sentido de desprezar a experiência literária? Hoje é frequente pensar-se que ler livros é rejeitar a verdadeira vida, como se a vida dos livros fosse uma vida menor. Custa-me a acreditar que um não-leitor possa compreender com profundidade um acontecimento de grande consequência histórica.

Nisso estamos de acordo. Basta ver os jornais no espaço cada vez mais marginal que é dado à cultura. Falámos da geração do meu pai, e não me parece que tenha existido com esta força e convicção um afastamento da cultura. É a tal história: Oiço falar de cultura e puxo da pistola. Na revista onde trabalhei [Visão] a cultura deixou de se chamar cultura, porque parece uma coisa mal vista. Passou a chamar-se Vagar. Há cada vez uma maior contaminação do espaço da literatura, com cada vez mais objectos na forma de livros que não podiam ser mais avessos à literatura, mas que beneficiam dessa confusão. Às tantas um livro de receitas já tem o mesmo valor que uma obra literária. Se calhar devíamos aplicar uma terminologia diferenciadora, como fazem os anglo-saxónicos, referindo-se aos escritores e aos escreventes. Do mesmo modo que há os jornalistas e os entertainers. Em relação aos livros, muitos salvaram as minhas férias. Eu estava a viver bons momentos, mas eles raptaram-me à monotonia. Senti-me, por vezes, brutalmente acompanhada, sendo atirada de um extremo ao outro da escala das emoções por um livro. Coisas que se calhar não teria conseguido através da minha vida, que é uma vida perfeitamente banal.

Na autoentrevista que fez para o “Jornal de Letras” associou a ideia de identificar-se com o outro com a sensibilidade de uma pessoa de esquerda, que é capaz de chamar a si a experiência dos desfavorecidos.

Essa definição é tão boa como outra qualquer. Se arranjar uma melhor substituo-a. O meu livro, o último, é sobre a alteridade, sobre como é que conseguimos ou não colocar-nos na pele do outro. Sendo assim é um livro sobre a pele, nos vários sentidos. No da melanina, como também pele no sentido da descamação, que as personagens sofrem por estarem presas numa praia. Ou pele porque têm de estar tão próximos, pele contra pele. Ou pele também porque se veem obrigados a despirem as suas peles, as várias que vestiram ao longo da vida para conseguirem sobreviver. Creio que, evidentemente, uma pessoa de esquerda tem de saber colocar-se na pele do outro, e na pele daquele que tira a palha mais curta da mão da vida. 

Há figuras de uma nova direita que têm assumido protagonismo e que fazem galantearia do seu individualismo, parecem seres algo escorregadios, incapazes de participarem de qualquer projeto comunitário.

É uma boa estratégia de sobrevivência. Estão sempre resguardados, porque não estão por estes, nem por aqueles, defendem umas teorias, mas são seres à parte, e parece-me que se está a revelar uma tendência, essa de muitas pessoas se identificarem com ideais de direita mas mimando esse papel de outsiders. Sobretudo depois de a direita ter tido um desempenho desastroso no anterior governo. Compreendo que não queiram associar-se às escolhas que foram feitas. Acho que são anos que deixaram um lastro, não só em termos económicos, mas em termos de dignidade, que será preciso muito tempo para recuperar. 

Num momento em que a própria língua portuguesa parece estar a ser rebaixada a um vocabulário cada vez mais restrito e restritivo, sente que é quase incontornável a obrigação do romancista a obrigar os músculos da língua a saírem da jaula?

Sim, julgo que é isso. Estamos sob uma influência muito anglo-saxónica… Há hoje muitas pessoas que dizem que o Beckett só usava não sei quantos vocábulos e que portanto se pode dizer o mesmo com parcos recursos, e podemos ser simplistas. A tradição anglo-saxónica colonizou-nos muito nos últimos anos e particularmente em termos literários. Como sabemos a língua inglesa pode ser maravilhosa como pode ser tremendamente básica, extremamente simples.

Sim, e há o inglês técnico…

Que é fácil de ler até para mim que sou péssima em línguas.

E agora, quando pensa em escrever, quais são as suas urgências?

Como não tenho nada daquelas assombrações dos escritores que se dizem torturados, ou se sentem encarregues de uma missão, a minha urgência é contar histórias. Quando estava a escrever este livro, que foi um processo atribulado, não apenas por ser difícil fingir, para além das personagens, uma linguagem arcaica…

Fez alguma pesquisa?

Não muita coisa. Li dois livros de história sobre escravatura em Portugal, mas em termos de linguagem foram ecos que me ficaram, e mesmo os vocábulos mais usados pelos brasileiros bastou-me ter ouvido Chico Buarque desde a infância.

E as novelas brasileiras?

Não, isso estava proibida de ver. Nisso era uma das meninas ET na escola. Houve também a literatura brasileira, que li muito. Desde Jorge Amado, a João Ubaldo, a Guimarães Rosa… Em “Grande Sertão: Veredas” há uma espécie de mina onde podemos ir buscar expressões ou imagens que se multiplicam por mil.  

Vamos ao afastamento da revista “Visão”. Pelo que percebi houve dez pessoas que saíram?

Sim, houve seis pessoas que foram indicadas para sair, e outras quatro que saíram voluntariamente.

O que é que foi mais inesperado nesta situação?

Já fui editora, já fui grande repórter, já fiz crónicas, já fiz online, fiz de tudo, e uma das coisas de que me orgulho foi de nunca ter prejudicado um colega. Pelo contrário, sempre tentei ajudar. Quando era editora e trabalhava com muitas pessoas penso que fui da maior lealdade e sempre os protegi de tudo, inclusivamente acarretando imensos problemas para mim. Mas o contrário não é simétrico. Sempre chateei o máximo que achei necessário os meus chefes. Para cima fui uma pessoa muito pouco dócil, fui alguém que contestou muita coisa. Sem querer armar-me em José Régio, não tendo a certeza sobre qual seria o caminho certo a seguir, muitas vezes me opus ao caminho apontado, porque me parecia desinteressante ou desonesto. Sendo uma pessoa tímida, no meio não era vista assim, não só porque tive discussões bastante aguerridas com estes chefes que me foram passando pela frente, mas também porque em muitas entrevistas fazia perguntas incómodas. Tive uma educação pós-1974, não fui educada para me limitar a seguir ordens. O que me ensinaram foi a pensar e dizer o que pensava.

Porque causava desgosto aos outros que sentiam não ter outro horizonte para além da revista?

Não sei. Posso dizer que nos meus lançamentos apareceram três ou quatro colegas. O eco que foi dado aos meus livros provocava nervosismo. “Agora o que é que fazemos?” Nos outros jornais, quando os próprios jornalistas da casa são distinguidos, publicam alguma coisa, o próprio jornal assume orgulho disso, faz alguma coisa para contribuir. No mínimo faziam micro notícias a assinalar isso.

Agora que se está a promover um congresso dos jornalistas, qual lhe parece que sejam os aspetos em que deve haver uma autocrítica em vez de uma mera vitimização perante condicionantes externas?

Se lhe disser que recebi mais mensagens de jornalistas de outros jornais do que do meu próprio, penso que isso é sintomático. Seria de esperar que tivesse tido mais apoio dos meus colegas. Acho que os jornalistas são os piores para eles próprios. Vivemos tempos em que os jornalistas têm medo. E é isso, precisamente, o que os jornalistas não podem ter. Um jornalista com medo cai dentro daquela noção que nos diz que não há nada mais parecido com um fascista do que um burguês assustado. Um jornalista assustado, não só não consegue fazer o seu trabalho, porque vive com receio das consequências e dos processos e das chatices e dos pequenos contratempos que pode vir a ter, como é um jornalista que se limita a obedecer e a não desagradar ao chefe. Se calhar, se alguns dos meus colegas tivessem ficado do meu lado, corriam o risco de escrever o seu nome logo a seguir ao meu, na lista de despedimentos. O problema é que, quando chegar a vez deles, vão sentir o mesmo que eu senti: uma espécie de deserto em meu redor.