Porque o Governo está virado para dentro de si próprio, para satisfazer as exigências dos partidos que o apoiam, não está virado para fora, para a promoção do desenvolvimento económico.
Para devolver rendimentos às pessoas, como exigem o PCP e o BE, o Governo não pode diminuir os impostos e não lhe sobra dinheiro para o investimento público.
Para devolver regalias aos trabalhadores, como exigem o PCP e o BE, o Governo não pode continuar as reformas das leis laborais, que estavam a dar frutos.
Em vez de reduzir os impostos e flexibilizar o mercado de trabalho, para estimular a economia e o investimento privado, o Governo vai ter de fazer o contrário: aumentá-los cada vez mais (silenciosamente) para corresponder às reivindicações da extrema-esquerda.
Vejam-se as reações indignadas do Partido Comunista e do Bloco à proposta de redução da TSU em 1,25% para as empresas.
Alías, aqueles dois partidos nunca falam em ‘empresas’ mas em ‘patrões’.
É revelador.
Para Portugal progredir, o caminho só podia ser um: crescer primeiro e distribuir depois.
Mas, para conseguir o apoio de comunistas e bloquistas, o Governo teve de seguir o caminho contrário: distribuir primeiro, na esperança de crescer depois.
Para isso construiu a seguinte teoria: com a reversão das medidas de austeridade, as pessoas comprariam mais, o consumo aumentaria e o PIB cresceria.
E com o aumento das receitas fiscais provenientes do aumento do consumo, o Governo teria mais dinheiro para distribuir às pessoas.
Parecia o ovo de Colombo – só que não funcionou.
O consumo pouco aumentou.
O tão saudado crescimento da economia no 3.º trimestre deveu-se essencialmente ao turismo.
Ora viver do turismo não chega.
O aumento ligeiro de competitividade que Portugal tinha conseguido nos quatro anos do Governo anterior está a perder-se.
O Bloco de Esquerda já exige as 35 horas semanais no setor privado e agora pede – imagine-se – a reversão de todas as leis laborais feitas no tempo da troika!
Por este caminho, o investimento vai cair ainda mais.
A nossa capacidade produtiva diminuirá.
A economia continuará a patinar.
E a ironia desta situação é que, mesmo aqueles que pensam beneficiar com ela, também vão perder.
É essa a grande ilusão.
José Silva Lopes, que foi ministro das Finanças de Mário Soares, negociou com a Intersindical um aumento salarial de 3% mas simultaneamente desvalorizou a moeda em 5% – pelo que os trabalhadores perderam 2% do poder de compra.
Mesmo assim, «ficaram todos contentes» – diria ele mais tarde – pois «tinham mais dinheiro no bolso».
Este Governo está a fazer o mesmo.
Tem devolvido e prometido devolver rendimentos às famílias, mas simultaneamente retira-lhes poder de compra através da inflação, de novos impostos, de novas taxas e taxinhas, de multas mais pesadas.
Os aumentos da gasolina e do gasóleo, por exemplo, atingem praticamente toda a gente e provocam aumentos generalizados noutras áreas, como sucede sempre que os combustíveis sobem de preço.
E a CGTP finge que não percebe isto e deixa-se enganar, pois politicamente obedece às ordens do PCP de não atacar o Governo.
Por isso não se vêem manifestações nas ruas nem perseguições a ministros.
O país está asfixiado e anestesiado.
Vivemos numa paz podre.
O Presidente da República não quer ser desmancha-prazeres e faz de conta que está tudo bem.
E Bruxelas também não quer um problema em Portugal e continuará a fechar os olhos a muitos atropelos.
Só Schäuble, de vez em quando, diz alto e à bruta aquilo que muitos pensam mas temem verbalizar.
Este modelo de governação, sendo mais insidioso, vai estrangular progressivamente a economia portuguesa e matar de vez o crescimento.
Este ano, apesar de todas as promessas de António Costa, o crescimento vai ser claramente inferior ao do ano passado – e para o ano será pior, apesar das previsões oficiais (que já não são nada boas).
Como ficou dito atrás, o país está numa trajetória errada: em vez de crescer para depois distribuir, está a distribuir enganosamente antes de crescer.
O resultado não se vê logo – mas vamos todos pagar pela ‘geringonça’ um preço altíssimo.
Todos os dias Portugal dá mais um passo atrás.
P.S. – Quando a economia voltou a crescer, ainda no tempo do anterior Governo, uma deputada socialista disse não estranhar: como o PIB tinha caído tão baixo, era fácil começar a subir. Quando se viu que os resultados económicos deste Governo iam ficar muito abaixo das expectativas, a mesma deputada socialista disse, sem se rir: como o Governo anterior destruiu muito o tecido económico, recomeçar a crescer é muito difícil. Como podemos acreditar nalguns políticos?