Trump acusa Obama de estar a sabotar a transição presidencial

Apoio à resolução da ONU sobre Israel entendido como nova tentativa de estorvar a troca de pasta

Que Barack Obama e Donald Trump não morrem de amores um pelo outro, já se sabia. Ambos fizeram questão de tornar pública essa aversão mútua, durante a campanha presidencial dos EUA. Trump disse, entre outras coisas, que Vladimir Putin era um líder bem mais capaz que Obama e o atual presidente defendeu que o seu sucessor – assumirá o cargo a partir do dia 20 de janeiro – não estava capacitado para poder servir como chefe de Estado dos norte-americanos. Ainda assim, e mesmo tendo em conta os já conhecidos programas políticos incompatíveis e os posicionamentos pessoais  antagónicos, não se esperava uma transição de poder tão tensa entre os dois.

A decisão da atual administração em abster-se, na passada sexta-feira, na votação da resolução no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a condenação do estabelecimento de colonatos judeus na Palestina, está a ser interpretada, pela equipa de Trump, como uma tentativa, magicada pelo próprio Obama, de sabotar o que parecia estar a ser uma suave transição de poder.

Donald Trump bem pode dizer aos jornalistas que a troca de pastas vai de vento em popa – como confessou, aliás, na quarta-feira, revelando que tinha tido uma conversa telefónica “muito boa” e “bonita” com o ainda presidente – mas a sua conta de Twitter costuma transmitir de forma bem mais palpável o que lhe vai realmente na alma.  Numa já habitual rajada de tweets, logo pela manhã, o magnata acusou a administração Obama, horas antes do tal telefonema, de estar a tratar Israel com “desdém” e “desrespeito” e prometeu vir a alterar o posicionamento dos EUA sobre a questão dos colonatos, mal ponha o pé na Casa Branca.

 

Doing my best to disregard the many inflammatory President O statements and roadblocks.Thought it was going to be a smooth transition – NOT!

— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) December 28, 2016

 

 

Numa outra mensagem, descarregou mesmo todaa sua indignação para com o chefe de Estado democrata. “Estou a fazer o que posso para ignorar as diversas declarações inflamatórias e os obstáculos do presidente O. Pensava que ia ser uma transição suave – NÃO!”, escreveu.

A chamada de Obama até poderá ter servido para esclarecer qualquer mal-entendido, mas a dificilmente alterará a suspeita de Trump sobre a estratégia daquele em complicar a transição. O presidente eleito e a sua equipa somam, ao caso de Israel, o chumbo do plano de perfuração do Ártico com vista à extração de petróleo e gás ou as sanções à Rússia pela alegada interferência nas eleições norte-americanas, como exemplos de decisões políticas estrategicamente tomadas à última hora para prejudicar o próximo gabinete. 

O site Politico falou com duas fontes próximas de Trump, que garantiram, inclusivamente, que o magnata sentiu que o mais recente discurso de Obama, em Pearl Harbor, lhe era dirigido de forma descarada. O ainda presidente apelou, no Havai, à “resistência à demonização daqueles que são diferentes”, resultante do “tribalismo mais primitivo”. António Saraiva Lima