Analistas contrariam alerta do FMI para risco de nova “bolha” imobiliária

O pedido de reforço na vigilância surgiu este mês depois de Portugal registar 15.ª maior subida anual nos preços dos imóveis

Os economistas do FMI realçaram este mês que está na hora de reforçar toda a vigilância sobre preços dos imóveis, que têm vindo a atingir valores pré-crise. O alerta surgiu depois de Portugal registar a 15.ª maior subida anual entre mais de 60 países analisados.

“Entre 2007-08, os preços dos imóveis colapsaram, marcando o início da crise. Agora, o índice de preços de habitação do FMI mostra que estamos quase de volta a preços pré-crise”, explicava o estudo do Fundo Monetário Internacional.

No entanto, muitos não concordam com a posição do FMI nesta matéria. Ao i, Francisco Quintela, Partner e Cofundador da Quintela e Penalva – Real Estate, explica que considera “que não existe neste momento risco de uma bolha imobiliária. Ou melhor, risco existe sempre, em qualquer economia, mas considero que atualmente a subida que se regista nos preços é mais sustentável do que a que precedeu a crise que começou em 2010. Ou seja, existe um risco reduzido”.

Até porque há diferenças que merecem ressalva: “A subida de preços que se registou ao longo da primeira década do século XXI e que se acentuou a partir da segunda metade, foi alimentada por crédito de habitação, ou crédito especulativo. Os bancos estavam literalmente a telefonar para a casa das pessoas para lhes oferecer crédito. E, os spreads chegaram a estar a 0,4%”.

Uma realidade que mudou e há pontos que têm de ser tidos em linha de conta. “Hoje, a grande diferença é que Portugal tornou-se um país cosmopolita e está a atrair investimento internacional. Não pode haver bolha se a procura excede a oferta e é preciso não esquecer que nos países onde houve bolhas imobiliárias, como em Espanha ou nos Estados Unidos, as subidas de preços das casas estavam nos 3 dígitos. Em Portugal, existe uma taxa de crescimento muito positiva, mas está “apenas” nos 2 dígitos. Portugal tem uma posição favorável em termos de relação qualidade/preço; é por esse motivo que se destaca nas análises comparativas que são feitas”.

Já o FMI, por seu lado, alerta exatamente para o perigo de se cometer o erro de achar “que desta vez é diferente”.

De acordo com os dados avançados pelo estudo do Fundo Monetário Internacional, os imóveis em Portugal valorizaram 6,4% só no último ano, o que se traduz no 15.º maior aumento. O estudo salienta ainda que esta evolução surgiu muito embora a contração do crédito em Portugal. Mas é esta falta de crédito em países como Portugal que leva o FMI a recomendar que se reforce a “vigilância”.