A ameaça do Populismo
Eleições na Europa
O próximo ano será marcado por vários acontecimentos externos que terão impacto em Portugal. O primeiro é político e diz respeito à Europa, o segundo é monetário e atravessa o Atlântico e o último é específico do país.
No seu último artigo como Schumpeter (nome da crónica da The Economist), o autor aponta para os riscos que o capitalismo corre em resultado do populismo que ressurge e poderá ganhar expressão com diversas eleições em grandes países europeus.
A Holanda vai para eleições parlamentares a 15 de março e o partido anti-emigração está bem colocado nas sondagens. Um mês depois é a vez de França ter o escrutínio presidencial e é o partido de extrema-direita que é apontado como favorito. Depois do verão há legislativas na Alemanha e a força da xenofobia poderá ter expressão nos resultados e entrar pela primeira vez no Parlamento.
Para 31 de março está agendado o final das negociações e o anúncio do calendário de saída do Reino Unido da UE. O Brexit, tal como a eleição de Trump nos EUA, é expressão mais visível do ressurgimento do populismo.
Caso os populistas consigam afirmar-se é o próprio projeto europeu que está em risco, uma vez que são os próprios países fundadores a renegar a União Europeia (UE) e alguns dos seus princípios, como a economia de mercado, o capitalismo, o liberalismo ou o comércio livre.
Robert Schumpeter, o economista de meados do século XX, tinha como preocupação que o capitalismo estivesse produzir os seus próprios coveiros na forma de uma intelligentsia anti-capitalista. Hoje em dia, argumenta o cronista da revista, essa elite está em Hollywood e nas universidades, e, por exemplo, durante toda a campanha eleitoral nos EUA crítica de Donald Trump e dos seus apoiantes.
Donald J. Trump
Mas Donald J. Trump foi mesmo eleito o 45.º Presidente dos EUA e depois de tomar posse, a 20 de janeiro, promete muitas e várias mudanças políticas.
Para os EUA, quer introduzir estímulos orçamentais e no plano interno a promessa de fazer descolar a maior economia do mundo com a introdução de estímulos orçamentais em larga escala, reduzindo os impostos e aumentando os gastos públicos.
De acordo com alguns analistas, investir quase mil milhões de dólares em infraestruturas poderá representar um crescimento de 0,25% do PIB norte-americano. Já uma redução do IRC de 35% para 15% poderá significar um crescimento de 10% dos resultados das empresas.
O atual bom momento da economia, impulsionado pela agenda de Trump, poderá determinar um crescimento de dois dígitos nos lucros das empresas tanto em 2017 como em 2018.
A mensagem de Trump tem levado os mercados a antecipar um cenário de crescimento e, numa decisão rara, a Reserva Federal dos EUA (Fed) decidiu aumentar a taxa de juro de referência e sinalizou mais subidas em 2017.
Os analistas sustentam que esta decisão é uma normalização mais rápida das taxas de juro da Fed e que esta serve para contrabalançar a política orçamental expansionista da futura administração norte-americana.
Política monetária
Divergência atlântica
No horizonte está também a subida do preço do dinheiro em terras do Tio Sam. Mas no território deSuper Mario a política é outra.
O Banco Central Europeu (BCE) vai continuar a tentar estimular a economia. No início de dezembro a instituição liderada por Mario Draghi decidiu prolongar o programa de compra de dívida pública dos países da zona euro até dezembro de 2017, mas optando por reduzir o ritmo mensal. O BCE garante ainda que caso seja necessário o programa de quantitative easing vai continuar.
A divergência nas políticas monetárias entre a Fed e BCE deverá conduzir o euro até ao valor do dólar. A última vez que isso aconteceu foi há 14 anos.
A política do BCE tem como objetivo aumentar a inflação na zona euro e, com a perspetiva de uma recuperação fraca e vários riscos políticos, Mario Draghi manterá as obrigações soberanas dos países do euro com os juros controlados.
O controlo dos juros e da dívida pública, a par da banca, são as duas questões fundamentais para a economia portuguesa em 2017.
Política orçamental
O peso da banca
Portugal continua com uma dívida pública muito elevada, dependente do financiamento externo e vulnerável a choques nos mercados e na zona euro.
Apesar de alguns progressos, subsistem problemas estruturais na banca e a ligação entre a banca e as dívidas soberanas é ainda muito acentuada.
Os problemas dos bancos repercutem-se as contas públicas. O défice de Portugal esta ano vai ficar abaixo dos 2,5% e o Orçamento do Estado para 2017 foi construído para atingir um défice do PIB de 1,6%.
Mas a operação de capitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD) foi adiada para o próximo ano e terá impactio nas contas públicas, seja no défice, seja na dívida pública. A previsão é que o Estado injete pelo menos 2,7 mil milhões de euros no banco público, qualquer coisa como o equivalente a perto de 1,5% do PIB.
Depois há ainda o Novo Banco, cuja venda tem sido adiada. O prazo negociado com Bruxelas acaba em agosto de 2017 . Se a operação falhar nesse prazo, o Novo Banco poderá ser liquidado. Os custos envolvidos em tal desfecho seriam muito elevados.
E há ainda a questão do apoio aos lesados do BES, cujo formato e montante em que o erário público é chamado a intervir ainda está por decidir. A indefinição ainda marca o futuro dos bancos que estão na esfera do Estado.
Outra preocupação de Schumpeter era o papel do Estado na Economia. Nos EUA, 38% do PIB são despesas do Estado e em Itália ou França ultrapassa os 50%. Em Portugal o valor é de 47% do PIB.
Schumpeter defendia que os incentivos certos ajudariam à inovação e ao crescimento. Mas os incentivos h oje em dia são a favor do status quo. São muitas os negócios em empresas que se mantêm e prosperam devido ao governo e à regulação.
Política autárquica
Risco de derrapagem
A intervenção do Estado em muitos aspetos do quotidiano aumenta a sua despesa e em 2017 há o risco de potenciais derrapagens nas contas públicas agravado pelas eleições autárquicas.
O cronista da The Economist argumenta que os cidadãos parecem ter deixado de pensar a longo prazo e a preocupação dos governos é dar-lhes o que pretendem no curto prazo.
Assim se torna a democracia mais disfuncional e se alimenta a onda de populismo. Quanto mais a economia lidar com a incerteza, adiando decisões difíceis, cresce estagnação económica e o populismo.