CGD. Operação em Espanha foi pouco rentável, disse António de Sousa

O ex-presidente da Caixa confirmou a tentativa de compra de dois bancos em Espanha para ganhar quota nesse mercado.

Apesar de Espanha não representar uma operação rentável, a Caixa Geral de Depósitos tentou por várias vezes fazer aquisições para ganhar quota. “Tentámos crescer em Espanha através de aquisições, porque era a única forma de ter uma operação com uma dimensão razoável em Espanha”, afirmou o ex-presidente da CGD, António de Sousa, que esteve ontem a ser ouvido na Comissão de Inquérito ao banco público.

O responsável sublinhou ainda que, não podiam ser bancos de grande dimensão, devido às capacidades da Caixa. “Fomos a dois concursos e a CGD não venceu”, salientou o ex-presidente do banco entre 2000 e 2004. Estas afirmações vão assim ao encontro das declarações feitas pela antiga ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite na mesma comissão.

Segundo o responsável, caso a Caixa tivesse vencido pelo menos um desses concursos, isso implicava a necessidade de fazer um aumento de capital do banco público, na ordem dos 400 milhões de euros.

Ainda assim, admitiu que essa estratégia continuou a ser seguida por futuras administrações do maior banco do país. “Sei que depois disso houve outras tentativas de aquisição de bancos em Espanha. Não sei dizer quais porque já não estava lá. O que fizemos (quando não fomos bem sucedidos nas duas tentativas de aquisição) foi fundir os três pequenos bancos que tínhamos em Espanha”, afirmou.

Já em relação à participação que a Caixa tinha no BCP — que obteve depois de ter aceitado ações do banco liderado por Nuno Amado, e não dinheiro, na venda do Banco Pinto e Sotto Mayor — António de Sousa disse apenas que, “enquanto gestor da Caixa, não era uma posição confortável para a gestão da CGD”. Isto porque “ter uma posição tão significa noutro banco comercial afeta os capitais próprios, os chamados rácios de solvabilidade do banco”, uma situação que tentou resolver durante o seu mandato.

Pressão do Estado

Quando questionado sobre possíveis pressões do Estado, António de Sousa garantiu que sentiu “duas pressões” para dar mais dividendos. “Havia uma prática, que não estava escrita, que em princípio, a distribuição de dividendos deve ser de 50% [dos resultados]. Pelo menos uma vez, penso que duas, houve pressões no sentido de ser mais de 50%”, revelou.

Mas os pedidos de mais remuneração acionista não tiveram resposta positiva. “Resisti a essas pressões porque a CGD não pode fazer aumentos de capital a não ser com dinheiro vindo do Estado”, acrescentou o antigo líder da CGD.

“O que temos de explicar é que temos [dividendos a distribuir] ou não. Teríamos de explicar que a CGD não estava em condições de pagar mas porque, senão, haveria risco de inscrição orçamental por precisar de um aumento de capital. As minhas explicações foram aceites e o assunto morreu por si”, salientou.

Recorde-se que, António de Sousa trabalhou na liderança da CGD com Pina Moura, Guilherme d’Oliveira Martins, Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix como ministros das Finanças. Os três últimos estiveram já em audição na comissão parlamentar, tendo todos recusado qualquer interferência na gestão quotidiana na CGD, como a concessão de crédito.