Santos Silva explica o que falta para debater a dívida pública

Augusto Santos Silva considera que o assunto é incontornável pela forma como “penaliza tantas economias”.

Quando na mensagem de Ano Novo Marcelo avisou o Governo de que é preciso "crescer muito mais", BE e PCP lembraram que isso não se faz sem o investimento público que esta constrangido pela dívida. O assunto está a deixar de ser tabu no Governo e hoje Santos Silva veio explicar o que falta para um debate à volta da negociação da dívida pública.

Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, ainda não é possível debater a dívida pública porque “falta momento e impulso político” para discutir as propostas que já existem.

Augusto Santos Silva considera que o assunto é incontornável pela forma como “penaliza tantas economias”. Mas defende aquela que tem sido desde sempre a tese de António Costa: a iniciativa do debate não partirá de Portugal mas de um consenso mais alargado no quadro europeu.

“As propostas existem, falta é momento e impulso político”, argumentou o governante, na sessão de abertura do seminário diplomático em Lisboa.

Santos Silva diz que o Governo quer “um novo impulso às políticas europeias orientadas para a convergência económica e social”, mas sem nunca pôr em causa “o quadro consolidado da coesão”.

 Uma coisa é certa: o ministro quer que a Europa deixe de ser diabolizada no discurso político.

 “Há um esforço de comunicação pública interna a fazer, já que demasiadas vezes, na opinião pública e até nos responsáveis políticos, se ouve opor Portugal e Europa como se de coisas contrárias se tratasse”, defendeu.

"Não há futuro positivo fora do quadro da UE”, avisa Santos Silva no dia em que se soube que o PCP está a planear uma campanha de debate sobre um plano para a saída do euro.

E para quem está a olhar para as eleições na Holanda, França e Alemanha como marcos políticos que condicionam a forma como a Europa lida com os seus problemas, Santos Silva também desdramariza.

“A tentação de olhar para eleições como supostos obstáculos ao processo de integração ou de transformar referendos em instrumentos de jogo político circunstancial é um dos sinais mais evidentes de uma certa arrogância e enclausuramento das elites eurocráticas e um dos mais funestos fatores de afastamentos dos cidadãos face ao projeto europeu”, argumenta. 

Recorde-se que os ministros Vieira da Silva e Eduardo Cabrita já vieram publicamente defender a necessidade de debater as questões da dívida.

O tema continua, porém, a não ser fácil porque Costa quer evitar tomar a iniciativa do debate, arrastando com isso receios juntos dos investidores que poderiam penalizar Portugal.

Prova disso está no atraso da divulgação do prometido relatório do grupo de trabalho que junta Governo e BE na análise a soluções para o problema da dívida pública. O documento está prometido há meses, mas continua a não haver data para a sua divulgação.