Novo Banco: governo “baralha e dá de novo”

Já é conhecida a opinião do governo sobre o conselho do Banco de Portugal (BP) que dava a primazia das negociações sobre a venda do Novo Banco (NB) ao fundo americano Lone Star. E, a meu ver, o governo desautorizou o BP em toda a linha.

Em comunicado do ministério das finanças, e citada pelo Jornal de Negócios, o governo não afastou o outro consórcio concorrente – Apollo/Centerbridge – nem dá qualquer primazia à Lone Star, numa bofetada ao BP. O governo quer antes o processo concluído rapidamente e “sem impacto nas contas públicas ou encargos para os contribuintes”. A exigência do Lone Star para que o Estado aprovasse garantias de 8.000 milhões de euros para cobrir custos associados a eventuais processos judiciais (consta que a proposta da Apollo Centerbridge exigia uma garantia semelhante) parece, pois, definitivamente afastada. O Lone Star sofre também outra pequena derrota: tinham fixado o dia de ontem para o fim das negociações e afinal, ao que parece, elas continuam.

A ministra da Presidência, Maria Manuel Marques, na conferência de imprensa que se seguiu ao final do conselho de ministros, disse, implicitamente, que a possibilidade de nacionalização não está excluída. Seria algo irónico que fosse Mário Centeno, doutorado por Harvard, a nacionalizar um banco. Mas, por vezes, acontecem coisas estranhas.

Se a opção do governo é não sobrecarregar nem o défice nem a dívida pública, só tem duas hipóteses: ou nacionaliza o NB, ou o vende por pouco dinheiro, mesmo por um preço simbólico (1 euro, no limite) a um concorrente que assuma toda a litigância. Liquidar o banco não é uma opção por este ter “um papel fundamental no financiamento da economia e, em especial, às Pequenas e Médias empresas”, prossegue o comunicado do Ministério das Finanças

Com a decisão de hoje Centeno veio demonstrar categoricamente que é ele, e não o governador do BP Carlos Costa, quem manda nesta possível venda. A vida tem destas ironias: Carlos Costa já foi superior hierárquico de Mário Centeno, “arrumando-o numa prateleira” no BP.

Por fim, quanto aos 3 900 milhões de euros que o Estado emprestou há dois anos ao Fundo de Resolução para que o então BES não colapsasse, é melhor não pensar muito nisso: será devolvido pelos bancos ao Estado ao longo das próximas décadas, em prestações suaves.