CDS e PSD com negociações por lisboa em impasse

Os presidentes das distritais não chegam a acordo sobre a vice-presidência da Câmara de Lisboa e a coligação de apoio a Assunção Cristas está em risco. Os centristas andam a duas vozes e os sociais-democratas já pensam em alternativas. Mas o PSD mexe bem além de Lisboa. Rio vai colhendo apoios e distâncias. E Marco…

CDS e PSD com negociações por lisboa em impasse

O acordo está num impasse, mas Mauro Xavier já avisou: se houver coligação de apoio a Assunção Cristas, o presidente da concelhia de Lisboa demite-se em desacordo com a estratégia do PSD para as eleições autárquicas deste ano. Nesse caso, Rodrigo Gonçalves, o polémico vice de Xavier, já afirmou que «mais vale fecharem portas». 

Apesar dos percalços, Miguel Pinto Luz e João Gonçalves Pereira, os líderes da distrital de cada partido, têm reunido regularmente e a Câmara Municipal da capital não escapa como tema. Os dirigentes já discutiram lugares nas listas de vereadores, deputados municipais e até juntas de freguesia. O PSD concederia juntas possíveis de ganhar ao CDS e o CDS concederia a presidência da assembleia municipal, pelo menos a um independente como Carmona Rodrigues ou até a José Eduardo Martins. 

Martins, coordenador autárquico do PSD para Lisboa, entregará um programa em Fevereiro, independentemente de existir ou não candidato nesse mês ou de quem o for.

Mas se até o número dois da lista foi consensualmente dado como para um social-democrata, há um lugar tabu que tem atribulado a negociação entre os dois partidos de centro-direita: a vice-presidência. 

O SOL sabe que o CDS insiste numa posição de força nas conversações, muito devido aos alegados bons números que Cristas apresenta em sondagens internas, e não abdica da vice-presidência da Câmara Municipal de Lisboa. No entanto, o PSD não pretende prescindir de ter um social-democrata como vice-presidente da autarquia mais importante do país.

«Depois de a líder do CDS admitir que fica na Câmara se ganhar, não indo para governo ou para deputada, é difícil compreender que seja uma vice-presidência a comprometer o diálogo», avaliou fonte que se reservou ao anonimato. 

Caso Assunção Cristas fosse presidente da Câmara de Lisboa e renunciasse ao mandato para ser candidata às legislativas, como fez recentemente António Costa, o seu vice-presidente ascenderia a presidente. Este, porém, é um cenário que a líder do CDS já descartou várias vezes, insistindo que fica se vencer. E Cristas pode querer ficar, mas para isso necessita de uma vitória. E só há vitória com o apoio do PSD. «Quando dizem que é o PSD que não quer derrotar Fernando Medina ao não apoiar Assunção Cristas, pergunto-me se o CDS deseja mesmo esse apoio à candidatura», pondera novamente a mesma fonte ao SOL.

Polícia bom, polícia mau

Sobre esse apoio, a centrista garantiu ontem, em entrevista ao Observador, que «ficaria muito satisfeita» caso o PSD a apoiasse, não negando que «o PSD e o CDS têm falado muito sobre Lisboa, não só sobre a cidade, mas sobre todos os concelhos do distrito», sendo que factualmente a autarquia lisboeta é um deles. 

Cristas confirmou também que «há conversas», mas respeitadoras dos tempos e das estratégias de cada partido. 

No mesmo dia, João Gonçalves Pereira, seu porta-voz, veio retificar que «não há conversas sobre Lisboa», depois de já ter até afirmado: «O apoio do PSD não nos tira minutos de sono». 

Se os centristas apostam num cenário de polícia bom/polícia mau ou se andam a duas vozes, está por esclarecer. 

Todos os cenários, sem dogmas partidários

Esta terça-feira, houve reunião entre Miguel Pinto Luz e Passos Coelho e o presidente da distrital de Lisboa colocou o líder do partido ao corrente das conversações com o CDS. 

Perante o referido impasse, Passos pediu ao coordenador autárquico, Carlos Carreiras, para pensar em alternativas independentes. Carlos Barbosa, José Eduardo Moniz e Rogério Alves são falados, mas Carreiras ainda não concretizou nenhuma sondagem pessoal. 

O PSD/Lisboa tem a decisão deliberada em Passos Coelho e lançou esta semana um comunicado que urgia «avaliar todos os cenários», pois «não vive de dogmas partidários» e tem o objetivo de granjear «um apoio maioritário dos lisboetas». 

Dentro do Partido Social Democrata há quem olhe para o apoio a Cristas como um mal menor, tendo em conta a ausência de nomes fortes depois da nega de Santana Lopes, há quem olhe com desaprovação, como Mauro Xavier e Rodrigo Gonçalves, e há quem olhe como oportunidade. Os setores mais distantes de Pedro Passos Coelho vêem uma coligação com o CDS como prova das dificuldades da atual direção.

Em relação ao pós-autárquicas, correm duas narrativas nas hoste sociais-democratas. Enquanto uns presumem que Passos irá ao congresso agendado para 2018 independentemente do resultado nas eleições autárquicas, outros divergem. «Tudo depende das autárquicas: se tiver um bom resultado, mantém o partido na mão como agora; se tiver um mau resultado, deve sair e de cabeça levantada. Ir a congresso se perder não teria sentido para ele», aponta um barão do maior partido da oposição. 

O certo é que o partido já mexe, e não é pouco. Desde o tremor de terra que Rodrigo Gonçalves causou ao desafiar Passos a candidatar-se a Lisboa, a estrutura moveu-se. No pavilhão em que Gonçalves discursou, assistia o deputado Feliciano Barreiras Duarte, o que causou alguma estranheza na medida em que era esperado num jantar do grupo parlamentar à mesma hora. 

Sei de um rio, sei de um rio

Marcelo prossegue distante da oposição e Marques Mendes em crítica cerrada aos domingos. Miguel Relvas em promoção de Luís Montenegro, que continua ao comando da linha da frente parlamentar. E há jóqueres a mostrar jogo. Mauro Xavier, cada vez mais longe da sede nacional e mais chegado a Rui Rio, não segue Relvas no apoio a Montenegro. Hugo Soares, primeiro vice de bancada de Montenegro e homem-forte da direção, é amigo de Ricardo Rio, o presidente da Câmara de Braga que está próximo de Rui Rio e não é por homonímia. 

Em Belém, a preferência por Luís Montenegro (e a distância a Passos Coelho) não é segredo. O Presidente da República já teceu elogios ao futuro do líder parlamentar do PSD e embora tenha convidado Rui Rio para seu secretário-geral nos anos noventa, convém recordar que o dispensou por escrito. Marques Mendes, conhecido adepto da presidência marcelista, tem ligações sociais-democratas conectadas a Rio, o homem que não descarta candidatar-se à liderança do PSD: Salvador Malheiro, da distrital de Aveiro, esteve no almoço de Natal com Rio e empresários, sendo próximo de Mendes; Castro Almeida organizou o almoço dos 25 anos da eleição de Cavaco Silva que sentou Passos e Rio lado a lado, sendo amigo de Rio e Marques Mendes – com quem trabalha na Abreu Advogados. 

Paulo Rangel, depois de surgirem manchetes que o apontavam como potencial candidato a líder no próximo congresso, fez saber a Passos que não iria contra a atual direção. E se Passos vier a enfrentar Rio conta com a ausência de entusiasmo que o seu adversário deixa na geração anterior à sua. Ao que o SOL apurou, nem José Eduardo Martins nem Pedro Duarte apoiariam Rui Rio para a presidência do Partido Social Democrata. E nem Martins nem Duarte são ‘passistas’, como é bem sabido. 

O regresso de Marco António

Com quem Passos Coelho parece contar é Marco António Costa. O vice-presidente do PSD regressou a um protagonismo que mal se vira nos últimos meses. Marco António deixara de aparecer em eventos do partido, estando mais presente junto da Juventude Social Democrata, mas desde o primeiro conselho nacional sem Jorge Moreira da Silva que o nortenho aparenta exercer o papel de primeiro-vice-presidente do partido. Conferências de imprensa, intervenções na primeira fila da bancada parlamentar, interpelações à mesa da Assembleia… Marco António voltou e na São Caetano sabe-se a bênção que isso é. É que Marco António Costa nunca se deu mal com Rui Rio. Antes pelo contrário.