O nome do cravo

A morte de Mário Alberto Nobre Soares, aos 92 anos e ao 26.o dia após o internamento no Hospital da Cruz Vermelha, provocou, como se esperava, como ele merecia, fortes emoções um pouco por todo o mundo.

Com reações apaixonadas. Tanto no sentido da tristeza, da amizade, da gratidão, como no sentido oposto, crítico, condenatório, talvez até, nalguns casos, de ódio.

Não nos órgãos de comunicação social, de Portugal e do mundo, em que a sua morte é assinalada com o respeito que merece porque foi homem das liberdades, da tolerância, da democracia e do Estado de direito.

Sim, e sobretudo, nas redes sociais, onde as reações à sua morte originaram uma onda de posts e de comentários quase transformados num massivo e último ataque à sua memória. Porque somos livres.

Porque Mário Soares lutou toda a vida pela liberdade, pela liberdade de pensamento, pela liberdade de expressão, pelo direito à indignação. E lutou por um Portugal não amordaçado.

O coro de elogios à figura maior da história do Portugal contemporâneo, democrático e livre teve nas redes sociais uma correspondente reação quase odiosa de intolerância.

Porque Soares teve vitórias notáveis e derrotas humilhantes na história da sua longa vida, que foi sempre política. Como teve opções e decisões fraturantes. Defensáveis, umas; criticáveis, outras.

Não há líder que faça história sem gerar amores e ódios. Não há homem marcante de um século, de um povo, de um país que não conquiste amores e ódios.

Soares não é nem nunca foi indiferente para ninguém.

Se o cravo, vermelho na flor e verde no pé, é o símbolo da Revolução de Abril, do triunfo da democracia, do pluralismo partidário, do Estado de direito democrático, do Portugal novo do final do século xx, Mário Soares é o nome do cravo.
Soares personificou um período marcante na história de Portugal, um virar de página, um outro futuro. Soares morreu. À entrada de uma nova era.