Aumento de capital do BCP: a China a entrar, Angola talvez

Quanto a mim, o que vou fazer? Bem, não tenho dinheiro para especular. Quanto a investir no BCP, nunca gostei de empresas que dão prejuízo.

Foi hoje noticiado pela imprensa, e mais tarde confirmado pelo próprio banco, que o BCP vai efetuar um novo aumento de capital, com o qual pretende recolher cerca de 1.330 milhões de euros. Este aumento de capital está reservado aos atuais acionistas, que irão receber, em função das ações que tiverem, direitos de subscrição. Com estes direitos poderão fazer uma de duas coisas: ou exercê-los, comprando as novas ações, ou, caso não queiram subscrever as novas ações, vender os direitos, porque eles serão cotados em bolsa. Muita atenção, porque os direitos que não forem subscritos ou vendidos perdem todo o seu valor.

Com o encaixe financeiro do aumento de capital, o BCP vai reembolsar 700 milhões de euros de obrigações convertíveis (CoCos) do empréstimo da troika, pelo qual deve estar a pagar juros de cerca de 10%, elevadíssimos. O BCP melhorará assim a sua situação financeira.

Mas existe outro motivo para este aumento de capital: o aumento do poder dos principais acionistas. Os direitos de voto nas Assembleias Gerais foram recentemente aumentados para 30% do capital. Para os chineses da Fosun, que têm uma participação de 16,7% no BCP, esta será uma oportunidade de ouro para aumentarem a sua participação no capital até 30%. Prevejo que os direitos de subscrição sejam negociados a bom preço, em bolsa.

Quanto ao segundo maior acionista do BCP, a petrolífera angolana Sonangol, gerida por Isabel dos Santos, filha do presidente José Eduardo dos Santos, que tem 14,9% do capital, ainda não disse o que vai fazer. Se, por acaso, decidir (como presumivelmente os chineses da Fosun farão) aumentar a sua posição para 30%, os direitos de subscrição serão vendidos muito caros em bolsa.

Assim, se tiver algum dinheiro disponível para especular (aqui não se trata de investir, mas sim de especular) pode fazer o seguinte: comprar algumas ações do BCP, vendê-las depois de terem sido destacados os direitos de subscrição e, quando estes forem negociados em bolsa, vendê-los. É um negócio mais arriscado do que a média, mas, se a Fosun e a Sonangol quiserem aumentar o seu capital, a venda dos direitos de subscrição pode ser lucrativa. Muita atenção aos custos das ordens de bolsa, que podem “comer” totalmente os lucros.

Quanto a mim, o que vou fazer? Bem, não tenho dinheiro para especular. Quanto a investir no BCP, nunca gostei de empresas que dão prejuízo.