Bloco de Esquerda expulsa “grupo infiltrado”

BE diz que decisão resultou da “verificação de fraude ao princípio legal e estatutário da adesão individual”. Mesa nacional aprovou afastamento com 47 votos a favor e 24 contra. 

O Bloco de Esquerda expulsou um grupo de militantes com o argumento de que se tratava de “um grupo infiltrado”. A decisão foi aprovada na reunião da mesa nacional, no domingo, com 47 votos a favor, 24 votos contra e 4 abstenções.

Os bloquistas explicam, num comunicado intitulado “Mesa Nacional anula adesão de grupo infiltrado”, que “esta decisão resulta da verificação de fraude ao princípio legal e estatutário da adesão individual” e abrange seis elementos, alguns militantes e outros que tinham pedido para aderir ao BE.

O processo, que culminou com o afastamento deste grupo, começou quando elementos da organização Socialismo Revolucionário – a secção portuguesa do Comité para uma Internacional dos Trabalhadores – pediram para aderir ao partido. Perante a suspeita de que havia um grupo a tentar infiltrar-se no BE, a direção do partido abriu um “inquérito visando apurar eventual fraude ao princípio da adesão individual”.

O inquérito foi anunciado com a justificação de que “o Secretariado identificou um conjunto de adesões e pedidos de adesão provenientes de um grupo que, externamente ao Bloco de Esquerda e sem qualquer contacto com os órgãos legítimos do partido, decidiu infiltrá-lo”.

Após a decisão de abrir um inquérito interno, a mesa nacional do BE recebeu um “pedido de formalização da tendência Socialismo Revolucionário, subscrito por um conjunto de aderentes que se identificam como membros deste grupo”.

A direção do BE garante que não se trata de nenhuma expulsão individual, mas antes do afastamento de um grupo organizado que pretendia infiltrar-se no partido. “A anulação das adesões e a não ratificação dos novos pedidos de adesão, num total de seis, foi decidida por voto secreto com 47 votos a favor, 24 contra e 4 abstenções. Esta decisão resulta da verificação de fraude ao princípio legal e estatutário da adesão individual. Não são abrangidos pela decisão três dos aderentes visados pelo inquérito, que integraram o Socialismo Revolucionário quando já eram aderentes do Bloco de Esquerda”, explicou ontem, em comunicado, o BE. Os bloquistas preferem não falar em expulsões e referem-se a esta decisão como “a anulação das adesões”.

Os militantes visados, contactados pelo i, preferem, para já, não fazer nenhum comentário. Um grupo de nove militantes, eleitos pela moção R, fez uma “nota de repúdio à expulsão de militantes do BE”. Ao contrário da direção do Bloco, estes militantes consideram que a “expulsão coletiva” foi concretizada por “motivo de divergência política”.

“Um esforço patético”

A nota dos críticos da direção considera que “esta decisão de expulsão faz um esforço patético de tresler a lei dos partidos sobre a adesão individual, acusando os camaradas expulsos de, no fundo, pertencerem a um coletivo”.

Os militantes bloquistas defendem ainda que “ao agitar o perigo de meia dúzia de militantes de base, a maioria da direção do Bloco fragiliza-se publicamente utilizando meios administrativos para sanar divergências políticas”.

A primeira expulsão

A primeira vez que o Bloco de Esquerda expulsou um militante foi em 2011. João Pereira tinha sido eleito vereador na Câmara de Olhão pelo partido dois anos antes. Os bloquistas retiraram a confiança política ao autarca com o argumento de que “faltou à verdade” sobre vários processos, nomeadamente sobre a alegada falência fraudulenta de uma empresa e sobre dívidas ao fisco. O visado disse, nessa altura, que a sua expulsão estava ligada ao facto de não ter apoiado Manuel Alegre nas presidenciais. João Pereira assumiu publicamente que era contra o apoio do BE ao histórico socialista nas presidenciais de 2009.

O Bloco de Esquerda vai realizar uma Conferência Nacional Autárquica no dia 18 de fevereiro, em Lisboa. Pedro Soares, dirigente do Bloco, explica que a iniciativa pretende avançar com as bases programáticas das candidaturas autárquicas do Bloco. O dirigente bloquista diz que os candidatos só serão apresentados após a discussão do programa. O objetivo é apresentar as principais candidaturas até ao final de março. “Queremos apresentar candidaturas fortes”, disse. “O Novo Banco é o terceiro maior banco do país. Não podemos admitir que o governo pague para o entregar a um fundo-abutre, seja o Lone Star, o Apollo ou a Fosun”