Guiné-Bissau. A primeira corrida dos “cães selvagens”

É já no próximo sábado que os djurtus se estreiam na fase final da Taça de Àfrica das Nações e logo no jogo de abertura, frente ao Gabão. O momento mais importante de uma selecção com pouca história

Das antigas colónias africanas que falam português, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau viveram sempre no fundo do futebol do continente. Angola, Moçambique e Cabo Verde já assinalaram presenças na fase final da Taça de África das Nações (Angola atingiu mesmo a fase final do Campeonato do Mundo de 2006, na Alemanha) e escreveram momentos interessantes da história das suas selecções. Agora, à medida que se aproxima o dia 14 de Janeiro, os guineenses aprontam-se para o jogo mais importante das suas vidas.

Para já, um dos problemas que sempre afectam a equipa da Guiné-Bissau parece resolvido: os jogadores sdeleccionados por Baciro Candé aderiram a uma espécie de levantamento de rancho, recusando-se a participar nos trabalhos de preparação enquanto não lhes fosse paga a verba estabelecida nos prémios de apuramento para esta fase final mas, entretanto, a federação veio a público declarar que os cerca de 10 mil euros por cabeça já tinham sido entregues. As coisas voltaram à normalidade, por enquanto, mas convém recordar que estava estabelecido que cada jogador recebesse 50 mil euros. Foi preciso a intervenção do presidente da república, José Mário Vaz, que recebeu pessoalmente os três capitães de equipa, Bocundji Cá, Zezinho e Jonas Mendes, para que as exigências baixassem e atingissem um valor razoável para uma federação tão depauperada em termos financeiros.

Curiosamente, por via do sorteio, coube à Guiné-Bissau ficar no Grupo A (com Gabão, Burkina Faso e Camarões) e, assim, defrontar o organizador do torneio, o Gabão, no jogo de abertura da 31ª edição da Taça de África. Curioso é também o facto de ter como adversário no grupo o treinador Paulo Duarte, responsável pela selecção do Burkina Faso.

Ambições comedidas

68ª classificada do ranking da FIFA, a Guiné-Bissau entra em campo com ambições comedidas. Afinal, é a única estreante na prova que conta com oito campeões (Marrocos, Argélia, Camarões, Egipto, Gana, Costa do Marfim, Tunísia e República Democrática do Congo) e quatro finalistas (Senegal, Mali, Uganda e Burkina Faso). Gente de respeito, como se vê.

O histórico dos guineeenses é, aliás, bem pobre. Só começaram a participar na qualificação para a Taça de África em 2010 e na qualificação para o Campeonato do Mundo em 1998. Sempre sem sucesso, até agora.

Muitos são, como se calcula, os pontos de contacto entre a selecção da Guiné Bissau e o futebol português. Para começar, Baciro Candé tem três lusitanos na sua equipa técnica: Filipe Moreira, treinador de guarda-redes, Nelson Pires, fisioterapeuta, e João Gião, especialista em metodologia do treino.

Depois, na lista de convocados, surgem outras caras conhecidas: os guarda-redes Jonas Mendes (Salgueiros) e Rui Dabo (Cova da Piedade); os defesas Juary Soares (Mafra), Agostinho Soares (Sporting da Covilhã), Mamadu Candé (Tondela), Eridson Umpeça (Freamunde) e Tomás Dabo (Arouca); os médios Nanísio Soares (Felgueiras), Piqueti Brito (Braga B) e Sana Camará (Académico de Viseu); os avançados João Mário (Chaves), Abel Camará (Belenenses) e Aldair Baldé (Olhanense). Nada menos de treze jogadores que actuam nos campeonatos portugueses.

Escoltados até ao aeroporto por uma multidão colorida e barulhenta, os seleccionados da Guiné-Bissau partiram para o Gabão de alma cheia: “Impressionante!”, registou Leocísio Sami, que actua na Turquia, no Akhisar. “Vivemos num país com tantos problemas de todo o género, mas quando a selecção joga o povo sai à rua cheio de alegria”.

É já no próximo sábado que os Djurtus, como são conhecidos, participam na abertura da Taça de África. Djurtu é uma espécie de cão selvagem, ou mabeco. Talvez a alcunha sirva para aguçar a ferocidade de uma equipa que chegou ao Gabão como “underdog”…