Taça da Liga. O solitário voo da águia real

O Benfica tem vindo – por entre o desinteresse mais ou menos disfarçado de FC Porto e Sporting – a açambarcar a terceira prova do calendário nacional: vai em sete conquistas e na sua nona meia-final em dez edições da competição. Há nove anos que não sabe o que é uma derrota (31 de outubro…

Dificilmente uma superioridade é expressa em números tão evidentes. Falamos do Benfica e da Taça da Liga, essa competição tão desprezada por aqueles que até agora a não conseguiram ganhar. Fazem como a raposa de Esopo, que depois foi de La Fontaine. “São verdes”, porque a elas não chega…

Convenhamos, até porque é de uma realidade que se trata: FC Porto e Sporting, e aqui a ordem do fatores é absolutamente arbitrária, encaram os sorteio da prova com sorrisos nos lábios. Ainda no início da época ouvimos dirigentes de um e de outro clube sublinharem que a Taça da Liga fazia parte dos objetivos de conquista. Entretanto, o mundo roda e a bola com ele. E surgem as frases de despeito e desinteresse à medida dos maus resultados. Ah! E a inefável e inevitável senda de guerra aos homens do apito, como se fossem eles os verdadeiros responsáveis por resultados tão medíocres que leões e dragões (estes ficaram-se por dois empates em casa, frente a Belenenses e Feirense, e uma derrota em Moreira de Cónegos!!!) vão obtendo. Ainda assim, estamos a falar de clubes que já estiveram presentes em duas finais cada um – Sporting em 2007/08 e 2008/09, as duas primeiras edições; FC Porto em 2009/10 e 2012/13… O desinteresse não será assim tanto, pois não?

Deixemos isso, por agora. Com a “final four” marcada para a última semana de janeiro, no Estádio do Algarve, importa sublinhar este dado: há 42 jogos que o Benfica não sabe o que é uma derrota na Taça da Liga. Ou seja, nove anos. Um exagero!

Última derrota

31 de Outubro de 2007. Foi esse o dia da última derrota dos encarnados na competição. O jogo foi em Setúbal, frente ao Vitória e contava para a 4ª eliminatória. Nesse tempo, a Taça da Liga era de uma confusão atroz. Depois de duas fases a eliminar, entrava-se num grupo do qual saiam os dois primeiros classificados para disputar a final. Enfim, portuguesices.

Voltemos a Setúbal. Ou melhor, passemos pela Luz. Empate 1-1 na primeira mão, com o golo do Benfica a surgir já nos descontos, por Fredy Adu (que já marcara nos descontos ao Estrela da Amadora). Na segunda mão, a tal derrota: Vitória de Setúbal, 2 – Benfica, 1. O americano voltou a marcar, aos 45 minutos, de penálti, mas Matheus e Edinho deram a volta ao resultado na segunda parte. Seriam os sadinos a vencer a taça, batendo o Sporting na final – 3-2 nas grandes penalidades após um aborrecido 0-0, depois de já terem batido os leões (1-0) nesse abracadabrante grupo derradeiro.

Na época seguinte, o Benfica começou a ditar leis. Entrou na 3ª eliminatória, num grupo com Vitória de Guimarães, Belenenses e Olhanense: três vitórias. 2-1 ao Guimarães na meia-final e conquista do troféu pela primeira vez num encontro polémico frente ao Sporting (1-1 e depois 3-2 nas grandes penalidades), com Lucílio Baptista no olho do furacão das queixas leoninas.

Açambarcamento

2009/10, segunda Taça da Liga para o Benfica. Fase de grupos com Rio Ave, Nacional e Vitória de Guimarães (tornar-se-ia um clássico) – duas vitórias e um empate; meia-final com um gordo 4-1 em Alvalade e vitória final frente ao FC Porto, por 3-0, golos de Ruben Amorim, Carlos Martins e Cardozo.

A seguir à segunda, vieram mais duas. Quatro consecutivas, portanto. 4ª edição da prova, e Benfica com três vitórias no grupo que tinha também Marítimo, Desportivo das Aves e Olhanense. 2-1 ao Sporting, no Estádio da Luz, na meia-final e 2-1 ao Paços de Ferreira, na final com golos de Franco Jara e Javi Garcia. Tornava-se um hábito.

Vem a época de 2011/12. Novamente percurso limpo. Três vitórias no Grupo B, contra Marítimo, Santa Clara e Vitória de Guimarães – um verdadeiro mártir dos encarnados na Taça da Liga. Meia-final na Luz, frente ao FC Porto: jogo emocionante, golos de Lucho Gonzalez e Mangala para os portistas, e de Maxi Pereira, Nolito e Cardozo para os da casa – 3-2! Depois, em Coimbra, 2-1 ao Gil Vicente numa vitória que esteve muito tremida.

Segue-se um ano de interrupção – é a vez do Braga de José Peseiro conquistar o troféu – mas, ainda assim, sem derrotas. Duas vitórias e um empate no grupo (Moreirense, Académica e Olhanense), e empate a zero em Braga na meia-final (2-3 nas grandes penalidades). Em seguida, mais três triunfos, subindo o total para sete.

2013/14 – vitórias sobre Gil Vicente, Nacional e Leixões no grupo; meia-final resolvida nas Antas (0-0 e depois 4-3 nas grandes penalidades) e 2-0 ao Rio Ave na final.

2014/15 – três vitórias no grupo, contra Moreirense, Arouca e Nacional; 3-0 na Luz ao Vitória de Setúbal (meia-final); 2-1 ao Marítimo (final).

2015/16 – novo percurso limpo no grupo, nove pontos – Moreirense, Nacional e Oriental; Braga eliminado na meia-final (2-1 na Luz), e vitória retumbante na final de Coimbra – 6-2 ao Marítimo, com golos de Mitroglu (2), Jonas, Raul, Gaitán e Jardel. O Benfica cumpria o seu 38º jogo sem derrotas na Taça da Liga. Agora, com a vitória desta semana frente ao Vitória de Guimarães, subiu o recorde para 42. Tem a palavra o Moreirense, na meia-final.