Moinhos em alto-mar

A primeira turbina eólica offshore da EDP sobreviveu a dois invernos. A empresa quer agora criar infra-estruturas noutras localizações e prevê investir 100 milhões de euros.

quando mcnamara surfou pela primeira vez uma onda gigante na nazaré, num período de fortes tempestades na costa portuguesa, uma estrutura metálica a 250 quilómetros de distância resistia à violência da maré. na costa da praia da aguçadoura, póvoa de varzim, um projecto experimental da edp demonstrou que a energia eólica em alto-mar tinha condições para ser bem sucedida.

o projecto windfloat da eléctrica está há dois anos estacionado a seis quilómetros da costa. é uma criação que alia duas tecnologias já conhecidas: um moinho de vento e uma estrutura de plataforma petrolífera. com isto aproveita-se a energia eólica em águas profundas, num projecto que a empresa quer agora levar para outras localizações, prevendo investir 100 milhões de euros.

a ideia do projecto experimental para a póvoa de varzim – que custou 23 milhões de euros – surgiu em 2008, mas a construção do moinho só começou em fevereiro de 2011, numa das docas secas da lisnave, em setúbal. em outubro, a estrutura estava pronta para ser lançada ao mar e rebocada ao longo dos 350 km de águas entre o sado e a aguçadoura.

“o transporte demorou cinco dias”, conta joão maciel, director de desenvolvimento tecnológico da edp, que acompanhou o sol numa viagem à estrutura da edp no mar.

até agora, o projecto-estrela da empresa superou as expectativas. a estrutura tem resistido aos invernos e a capacidade de produção é superior à das eólicas em terra. o windfloat da edp tem uma turbina de dois megawatts que geram uma produção anual de cinco gigawatts de energia. “serve para alimentar 1.500 famílias com um consumo normal”, diz joão maciel.

a estrutura produz energia durante 104 dos 365 dias do ano, em média. em terra, há poucos sítios onde se produzam mais do que 83 dias de energia eólica por ano. e a aguçadoura não é a zona ideal em termos de vento. é um sítio de fácil acesso, logo, ideal para testes. “na fase pré-comercial ainda queremos levá-lo mais para fora, a uns 15 ou 30 km da costa, onde o vento já é mais constante”, antecipa o director, antevendo que a produção anual possa aumentar 20%.

a fase comercial do windfloat só deverá acontecer em 2020 e até lá terão de ser ultrapassadas questões regulamentares – não existe ainda um enquadramento para estruturas tão longe da costa. mas a empresa está convicta das vantagens.

a facilidade de gestão é uma delas. a manutenção física é feita mensalmente por técnicos que se deslocam à plataforma. há um controle 24 horas por dia a partir da sub-estação da aguçadoura. os técnicos até podem, em casa, monitorizar o sistema por computador. outra vantagem é a flexibilidade. “agora está a 50 metros de profundidade, mas pode pôr-se a 200 ou a 300, unicamente aumentando o cabo que prende a estrutura ao fundo”, conta joão maciel.

joana.barros@sol.pt