Integração de Portugal na UE foi um ‘semifalhanço’, diz Augusto Mateus

Os 25 anos de integração portuguesa na União Europeia saldam-se num “semifalhanço”, conclui um estudo hoje apresentado pelo economista Augusto Mateus, que atribuiu este resultado a “erros de alguma impreparação” da classe política.

o estudo “25 anos de portugal europeu”, coordenado pelo antigo ministro da economia e hoje apresentado em lisboa pela fundação francisco manuel dos santos, conclui que os 25 primeiros anos da integração de portugal na união europeia resultaram num semifalhanço, com melhorias em termos de qualidade de vida, mas falhanços na sustentabilidade.

“fizemos coisas muito bem feitas, vivemos hoje melhor, mas cansámo-nos a meio caminho. perdemos força e velocidade”, disse o economista na apresentação do estudo, em lisboa.

segundo o documento, portugal recebeu, entre 1989 e 2013, um volume total de fundos estruturais e de coesão superior a 96 mil milhões de euros, tendo sido executados 81 mil milhões de euros até ao final de 2011.

este financiamento permitiu apoiar e viabilizar um conjunto muito diversificado de projectos de investimento desenvolvidos por entidades públicas e privadas no país.

no entanto, defendeu hoje augusto mateus em conferência de imprensa após a apresentação do estudo, em vez de estes fundos serem usados para construir políticas autónomas para a mudança, “os fundos passaram a ser as políticas e as políticas reduziram-se àquilo que os fundos permitiam”.

“em muitos casos, converteu-se em políticas nacionais as orientações dos fundos comunitários, e isso foi um falhanço”, disse.

por outro lado, afirmou, em portugal “não se gosta muito de estratégia”, mas esta é fundamental.

augusto mateus exemplificou com as políticas económicas portuguesas, que, na sua opinião, não souberam ajudar os agentes económicos a adoptar comportamentos que fossem bons para si próprios, mas também bons para o país.

“podemos levar a mal que a população no seu conjunto tenha querido consumir mais? tenha poupado muito pouco? do ponto de vista humano, não podemos levar a mal. do ponto de vista da política pública, podemos e devemos levar a mal”, afirmou.

para o antigo ministro da economia, e sócio da empresa augusto mateus e associados, em causa estiveram “erros de alguma impreparação, de ver facilidades onde elas não existem, erros de ilusão”.

questionado pelos jornalistas como se justifica que estes erros não tenham sido corrigidos ao longo de 25 anos, augusto mateus apontou “razões genéticas”, nomeadamente a ausência de uma cultura de transparência, de avaliação e de prestação de contas.

“a democracia é um espaço em que cidadãos exercem responsabilidade política com base em transparência, avaliação, escrutínio. é a única maneira de aprendermos colectivamente com a experiência”, disse.

o estudo hoje apresentado visa, por isso, “ajudar a sistematizar estes ensinamentos” para que na preparação do programa de coesão para 2014-2020 não se cometam os mesmos erros, disse o economista.

o autor deu o exemplo do erro de fragmentar os recursos concedidos através dos fundos estruturais, devido à preocupação de fazê-los chegar a todo o país.

“se o incentivo é fraco, não tem resultado. se se dispersam os meios que temos por multidões de projectos, não há retorno”, afirmou, usando a metáfora: “muitas andorinhas sem primavera”.

augusto mateus defende que os incentivos devem ir para as empresas que podem contribuir para o progresso, e não em função do tamanho.

lusa/sol