Carros em Lisboa com menos lugares

As contas não estão fáceis para a Câmara de Lisboa. Entre somas e subtrações, é atualmente impossível saber quantos lugares de estacionamento vão ficar disponíveis depois de concluídas as obras no Eixo Central da cidade.

«Também não estou a ver qual a utilidade desse exercício», disse Fátima Madureira aos jornalistas, durante uma conferência de imprensa que decorreu esta semana para apresentar as várias fases das obras que irão decorrer durante os próximos nove meses entre o Marquês de Pombal e Entrecampos. A diretora municipal de Mobilidade e Transportes de Lisboa preferiu focar atenções nas últimas alterações nas vias adjacentes e que permitiram um ganho de 94 lugares. «Aproveitamos o problema do estacionamento em segunda fila para mudar a forma como este é feito», esclarece. Assim, nas ruas Miguel Bombarda, João Crisóstomo e António José de Almeida, estes novos lugares passam a ser em espinha, em vez de longitudinais.

Apesar deste número recente poder facilmente ser somado ou subtraído aos dados inicialmente divulgados, a verdade é que as alterações ao projeto ainda não deram tempo à autarquia para fazer uma atualização das contas. Isto porque, inicialmente, as obras implicavam o desaparecimento de 300 dos 619 lugares existentes à superfície. O projeto foi entretanto atualizado e o presidente da Câmara, Fernando Medina, veio garantir que, com a eliminação de uma das ciclovias previstas num dos lados da Avenida da República, se poderiam poupar 156 lugares de estacionamento e até criar sete novos lugares.

Com este vai e vem municipal, Fátima Madureira não conseguiu responder com números às questões colocadas sobre o estacionamento, mas afasta a possibilidade de isso vir a ser um problema. Enquanto moradora, garantiu,  nunca sentiu qualquer dificuldade em estacionar naquela zona: «O mais difícil é sempre para quem vem de fora, mas isso acontece em toda a Lisboa».

Três obras em simultâneo? ‘Não será insuportável’

Muitas foram já as sessões públicas sobre as obras no Eixo Central, quase todas com uma plateia de moradores preocupados com a forma como vão circular e estacionar na zona onde residem.

De modo a apaziguar os ânimos de quem ainda tinha em mente os 300 lugares que a Câmara previa anular inicialmente, Manuel Salgado, vereador do Urbanismo, anunciou a celebração de um acordo com uma das empresas que gerem parques de estacionamento nesta zona, onde estarão assegurados 165 lugares para moradores, 24 horas por dia, por 25 euros/mês (o valor normal é de 100 euros). Os presentes na reunião em que este anúncio foi feito não se mostraram satisfeitos com o valor, mas até a oposição, desta vez pela voz de António Prôa, considera o preço «justo».

O vereador social-democrata tem sido uma das vozes mais ativas na defesa dos moradores do Eixo Central. Ao SOL, lamentou que «os lisboetas sejam tratados da mesma forma que aqueles que vêm de fora da cidade». Também por isso, lembra a urgência da criação de zonas exclusivas para residentes. «Em determinadas ruas, deviam existir partes exclusivas para moradores», refere, aproveitando para recordar a proposta já apresentada pelo PSD e que prevê duas horas grátis de estacionamento para moradores nas zonas verdes e amarelas da cidade.

António Prôa aproveita para lembrar que, a partir de 3 de maio, Lisboa vai ter três grandes obras a acontecer em simultâneo: Eixo Central, Cais do Sodré e Segunda Circular. «Não é responsável submeter os lisboetas a uma coisa desta dimensão», considera. Já a diretora municipal Fátima Madureira garante que as três obras vão ser feitas em «total coordenação» e que, no geral, «não será nada de insuportável para a cidade funcionar».