Rui Rio já mexe

Passos Coelho venceu as últimas eleições legislativas – após um governo marcado pela crise mais profunda (ao nível económico, financeiro e social) da nossa história democrática. Os militantes do PSD estão gratos a Passos Coelho pelo feito. Como ficou demonstrado no último Congresso (e nas eleições directa que o antecederam), a liderança de Passos Coelho…

Acresce, ainda, o facto de muitos, não obstante elogiarem Passos Coelho à exaustão, proclamarem que é necessário construir uma nova alternativa política à geringonça, que não se resuma a mais austeridade. Contudo, ninguém explica os termos desta alternativa. Ninguém ousa explicar o que deve ser feito diversamente.

A política – a política interna do PSD, por maioria de razão – transformou-se num jogo de distribuição de lugares, de alcançar o “poder pelo poder”, como um fim em si mesmo e não como um meio para melhorar a vida dos portugueses – é a hipocrisia política em estado puro. Quer derrubar-se Passos Coelho para propor uma alternativa diferente; ninguém, contudo, explica a medida dessa diferença. Ideias? Discussão de ideias? Trata-se de um mero sonho nosso, sem possibilidade de concretização nas condições políticas nacionais.

Há, ainda, aqueles que elogiam Passos Coelho, que afirmam apoiar o líder incondicionalmente – e até escrevem artigos em jornais explicando a sua falta de comparência no congresso do partido para não ofuscar o brilho de Pedro Passos Coelho.

No entanto, na prática, estas personalidades já andam a circular pelas secções locais do PSD, em jantares e almoços com as figuras locais e distritais do partido, tentando obter apoios vários para um assalto à liderança até 2017. 2017 é o “ano-chave” ou  o “ano-limite” para a oposição interna (escondida, mas com o rabo de fora) da oposição interna a Passos Coelho. E Rui Rio é o rosto mais forte desta “guerrilha” interna que já se sente no PSD: José Eduardo Martins, Pedro Duarte ou Aguiar-Branco ocupam uma série B ou C de alternativa à actual direcção social-democrata.

Não por acaso Rui Rio participará, amanhã (sexta-feira, dia 6 de Maio, às 15h30) em conferência promovida pelo Núcleo de Estudantes Sociais-Democratas da Faculdade de Direito de Lisboa, na própria Faculdade de Direito, alusiva à temática da relação entre Política e Constituição. É uma iniciativa muito meritória do grupo de estudantes da Faculdade de Direito de Lisboa. É mais uma iniciativa que mostra que Rui Rio não se auto-excluiu (para já) da sucessão a Pedro Passos Coelho – está activo, em contacto permanente com as bases.

 No fundo, Rui Rio pretende obter, em 2017, uma legitimidade qualificada, de mais de 50 por cento. Será a única forma de promover a liquidação do passismo, leia-se, de promover a sucessão de Passos Coelho, afastando Maria Luís Albuquerque, Marco António Costa e Montenegro.

Dito isto, mantemos a nossa posição: o futuro do PSD está nas mãos de Passos Coelho. Se revelar vontade, determinação e ideias que convertam o PSD no partido do futuro e não no partido que tem que justificar permanentemente o passado, ficará com o apoio da larga maioria dos militantes; se Passos Coelho já estiver com a sua cabeça noutro lado, noutro Palácio, fragilizar-se-á e será naturalmente afastado da liderança do partido. Rui Rio reza para que Passos falhe. E não perde uma oportunidade de se demonstrar. Veremos o que dirá amanhã na Faculdade de Direito…

joãolemosesteves@gmail.com