Voltará o Benfica a ser campeão?

Ganho o campeonato, ganha a Taça da Liga, impõe-se reflectir sobre a próxima época do Benfica.

Muitos benfiquistas acham que vai ser um passeio no parque, mas não vai. O Benfica tem por si o facto de ter roubado a hegemonia ao FC Porto. Isso deve-se à estabilidade que Luís Filipe Vieira trouxe ao clube – e à ‘volta’ que Jorge Jesus deu na equipa de futebol. Mas atenção: nada está garantido!  A equipa do Benfica beneficiou este ano da herança de Jesus. Recordo que, após a saída de Jesus do Sporting de Braga, este ficou em 2º no campeonato. Domingos era o treinador e por causa desse ‘feito’ transferiu-se para o Sporting – mas desde aí não fez mais nada.

Quero dizer que poderá acontecer o mesmo a Rui Vitória? Não necessariamente. Nem digo – como disse Jorge Jesus – que o único mérito de Rui Vitória foi não ter mudado nada. É evidente que Vitória teve vários méritos. Para lá de abdicar de ideias pré-concebidas e saber adaptar-se às rotinas da equipa do Benfica (sistema 4x4x2 e não 4x3x3, marcação à zona e não homem a homem, etc.), demonstrou notável resistência psicológica ao não se deixar abater quando as coisas corriam mal. E (talvez o mais importante) soube ir tapando com mestria os buracos abertos pelas lesões, mantendo a equipa a ganhar mesmo sem jogadores nucleares.

Benfica feliz em momentos cruciais

Saiu Nelson Semedo e entrou André Almeida; saiu Luisão e entrou Lisandro López; saiu Lisandro e entrou Lindelöf; saiu Gaitán e entrou Carcela; saiu Fejsa e entrou Samaris; saiu Renato Sanches e passou Pizzi para o meio, sendo este substituído por Salvio (ou Carcela).

O lançamento de Renato Sanches, completamente inesperado, foi um acto temerário que transfigurou a equipa e teve um efeito decisivo na reviravolta que possibilitou o título. Nem Vitória pensaria que a coisa corresse tão bem. E aí há que tirar o chapéu ao treinador. Poucos teriam tido a visão e a coragem de lançar Renato às feras naquela altura. E Vitória colheu os louros dessa felicidade.

Aliás, depois de um desgraçado início de campeonato, Rui Vitória foi um treinador feliz em momentos capitais. Por duas ou três vezes, podia ter caído de vez – mas teve a senhora de Fátima a protegê-lo. Recordo o jogo em Astana, em que o Benfica esteve a perder por 2-0 e podia ter sido afastado da Champions, mas chegou ao empate empurrado por um jovem de 18 anos: exactamente Renato Sanches. Lembro-me da vitória em Guimarães, arrancada a ferros com um golo fantástico do mesmo Renato, depois de três lances em que o árbitro poderia ter marcado penálti contra o Benfica. Recordo o jogo com o Sporting em Alvalade, em que os leões falharam golos infantilmente. Recordo o jogo contra o Boavista, em que o Benfica marcou aos 93 minutos, depois de os axadrezados terem falhado 2 oportunidades.

Portanto, em momentos cruciais o Benfica foi feliz.

Mas aproveitou bem essa felicidade: não é para qualquer um fazer uma série de 13 vitórias seguidas e outra de 12, apenas separadas por um jogo (contra o FC Porto) em que o Benfica perdeu de forma muito infeliz.

Pode dizer-se, no entanto, que este foi praticamente o único jogo em que a infelicidade bateu à porta da equipa encarnada. Nos outros todos, quando a equipa falhou golos incríveis (porque também os falhou…), isso não lhe roubou pontos. Inversamente, o Sporting perdeu pontos em jogos onde falhou clamorosamente (Bryan Ruiz em Guimarães e em Alvalade contra o Benfica).

Isto foi o passado.

E o futuro?

O ano da confirmação de Rui Vitória

Este vai ser o ano capital para Rui Vitória. Se, na época que agora finda, Vitória beneficiou da embalagem que a equipa trazia de trás, agora começa a pedalar só por si. E, tanto mais, se perder jogadores que vinham do passado: Gaitán e Renato Sanches (que já saíram), Jonas, Talisca, Lindelöf, etc. Não é a mesma coisa pegar numa equipa que vem embalada – ou ter de a refazer, como irá acontecer.

Julgo que, quaisquer que sejam as saídas, Vitória não deve cair na tentação de tapar todos os buracos com jogadores da formação. Os benfiquistas convenceram-se de que daqui para a frente será sempre a lançar jovens do Seixal, mas não é assim: num clube grande, podem passar anos sem aparecer um jogador capaz de chegar à equipa principal.

É verdade que o Sporting tem conseguido isso mais vezes, mas há muito que o Sporting não é campeão. O Porto e o Benfica, que têm dividido os campeonatos, apresentaram equipas que não tinham, por vezes, um único português. E o salto dado pelo Sporting este ano deve-se à entrada de jogadores experientes: Schelotto, Coates, Bruno César, Teo Gutiérrez, Bryan Ruiz…

Repito: o próximo ano vai ser crucial para Rui Vitória e para o Benfica. Para Vitória será (ou não) o ano da confirmação. Para o Benfica será o ano da prossecução (ou não) de um caminho que lhe deu a liderança do futebol português.