Investigação à morte do jovem de Portimão paralisada

A investigação ao homicídio de Rodrigo Lapa, o jovem de 15 anos que, a 2 de março, apareceu morto a cem metros de casa em Portimão, encontra-se paralisada.

Os investigadores, que preparam uma carta rogatória para que o único suspeito do crime – o padrasto de Rodrigo – seja ouvido no Brasil, estão de mãos atadas, uma vez que, quase três meses após o crime, ainda nada se sabe dos exames médico-legais complementares. Em causa estão, nomeadamente, os exames toxicológicos, pedidos ao Instituto de Medicina Legal pela Polícia Judiciária (PJ) após a autópsia ter fornecido um resultado inconclusivo.

A colaboração com as autoridades brasileiras revela-se fundamental para desvendar os contornos do crime. Na carta rogatória para o Brasil, deverão ser também pedidas as listagens de contactos efetuados pelos números de telemóveis utilizados pelo companheiro da mãe da vítima – Joaquim Lara Pinto, que partiu para Mato Grosso no dia em que Rodrigo foi dado como desaparecido –, o que está a atrasar a investigação.

Mãe manteve contactos com companheiro no Brasil

Recorde-se que, segundo a versão inicial dada às autoridades por Célia Lapa, mãe do jovem, este teria saído para a escola numa segunda-feira, 22 de fevereiro, depois de ter acordado com o alarme do despertador. Mas o SOL apurou de fonte conhecedora do processo que o telemóvel de Rodrigo encontrava-se desligado desde a noite anterior, a partir das 22h50 – o que leva a PJ a considerar a hipótese de a morte ter ocorrido por essa hora e de o rapaz poder ter sido drogado, uma vez que não existem sinais de defesa.

Desde que o companheiro brasileiro rumou a Lisboa para depois apanhar o avião em Madrid, Célia Lapa manteve-se sempre em contacto com ele durante a viagem, para o seu telemóvel. E, chegado ao Brasil, Lara Pinto manteve as comunicações com a companheira, que lhe ligava não só através de um telemóvel da família como de um telefone fixo da residência do pai, Rubens Lara Pinto, onde o principal suspeito do homicídio de Rodrigo está agora a viver. Foram, aliás, estes os dois contactos que Célia forneceu à PJ e depois ao SOL. Omitiu, no entanto, os contactos mantidos entre os dois durante a semana seguinte ao desaparecimento de Rodrigo, efetuados por Lara Pinto a partir de telefones públicos.

O brasileiro, receando estar sob escuta, deixou de utilizar os telefones habituais, que agora se a encontram desligados. Para fintar as autoridades, ligou a Célia a partir de oito números diferentes, mas sempre na área de residência da família, em Coiabá, no bairro do Tijucal.

Essas comunicações telefónicas entre a mãe da vítima e o ex-companheiro tornaram-se suspeitas. Sobretudo depois de Célia ter alterado as suas declarações na PJ quando o corpo do filho apareceu, a 2 de março, a 100 metros da sua casa.

As contradições de Célia

Enquanto inicialmente encobrira o ex-companheiro, ao ser ouvida pela segunda vez pelos investigadores Célia admitiu que Lara Pinto terá apanhado o jovem de surpresa, imobilizou-o com o braço direito em torno do pescoço dificultando-lhe a respiração, e arrastou-o para a cozinha, tendo fechado a porta da sala para que a mãe não visse o que depois aconteceu. Nessa altura, segundo veio a admitir, desconfiou de imediato que ele tivesse feito mal ao filho.

Inquirida pela PJ sobre a ocultação até aí de tais factos, Célia justificou-se com o receio que tinha pela sua própria vida e com o facto de o ex-companheiro poder partir levando a única filha do casal. Apesar destes temores, Célia manteve regular contacto com Lara Pinto no Brasil.

Recorde-se que ambos tinham planeado uma viagem para aquele país cerca de um mês antes do homicídio e que Rodrigo não fazia parte dos planos do casal. No entanto, apesar da confissão de Célia configurar o crime de omissão de prestação de auxílio, o Ministério Público entendeu por enquanto não a constituir arguida.

Entretanto, a investigação permanece num impasse, uma vez que o relatório dos exames complementares da autópsia pedidos ao IML ainda não foi concluído. Segundo uma fonte da PJ, «a investigação está finda, aguardando-se apenas o resultado da autópsia para completar as perguntas com que necessitamos de confrontar o cidadão brasileiro».