França a caminho da greve geral

A França viveu a pior semana de protestos desde que em março se iniciou a resistência à nova lei laboral do país, que acabou por ser imposta por François Hollande através de decreto presidencial devido à possibilidade de ser rejeitada por uma fação dos próprios socialistas.

França a caminho da greve geral

A maior central sindical do país intensificou a luta ao paralisar as oito principais refinarias do país no início da semana. Uma ação que gerou rapidamente uma corrida às gasolineiras. E, ao assumir que entre 20 a 30% dos postos de abastecimento já estavam sem combustíveis, o Governo ordenou a «libertação» dos locais – medida que gerou cenas de violência em Marselha.

O primeiro-ministro Manuel Valls admitiu então a possibilidade de fazer «algumas alterações» à legislação, mas garantindo que o Governo «não vai mudar de direção» na aplicação de uma lei que os críticos dizem facilitar despedimentos, promover os contratos precários e acabar com a universalidade da jornada semanal de 35 horas de trabalho.

A resposta da Confederação Geral do Trabalho (CGT) surgiu na quinta-feira: às refinarias juntou-se a paralisação das 19 centrais nucleares do país, responsáveis pela produção de 75% da eletricidade consumida em França. Os comboios pararam, houve voos cancelados pelos protestos de controladores aéreos e houve também pontes e estradas bloqueadas que geraram novos confrontos com as autoridades – só em Paris foram detidos 16 manifestantes.

Ministros desmentem-se

E se a lei El Khomri – que leva o nome da ministra do Trabalho, Myriam El Khomri – já havia provocado divisões internas no partido do poder, esta semana fê-lo dentro do próprio Governo: perante o crescimento dos protestos, o ministro das Finanças, Michel Sapin, admitiu a possibilidade de se «modificar o artigo 2» da lei, que é um dos mais contestados por afetar a lei das 35 horas semanais de jornada laboral. Algo que seria desmentido logo a seguir por Valls: «Não vamos tocar no artigo 2», garantiu o PM.

Na entrevista televisiva, Valls sublinhou a «irresponsabilidade» da CGT e defendeu que serão os franceses «a sofrer com uma situação» que diz poder prejudicar gravemente a economia do país. A CGT responde ao prometer não abrandar o protesto e anunciando a intenção de convocar uma greve geral – algo que só ainda não conseguiu pois as restantes centrais sindicais abandonaram a luta após as modificações feitas pelo Governo à primeira proposta de lei.

«Houve um apelo à greve e vamos fazer assembleias-gerais, como se faz em todas as empresas. Enquanto o Governo se recusar a dialogar, há o risco de que a mobilização se amplifique», ameaça o líder da CGT, Philippe Martinez.