Conseguirá o Sporting chegar ao título?

Jorge Jesus disse em entrevista à SIC o que era expectável: que na próxima época quer fazer melhor do que nesta, ou seja, quer ser campeão. A ambição é obviamente legítima: um clube que ficou a 2 pontos do título, só pode querer que no ano seguinte as posições dos dois primeiros se invertam.

Admitindo que o título se vá disputar de novo entre o Sporting e o Benfica, cabe falar um pouco dos dois treinadores.

O treinador do Sporting é o género de líder do qual depende quase tudo. Por isso, se ganha, a principal responsabilidade é dele; mas, se perde, a principal responsabilidade também é dele. Rui Vitória é um caso diferente. Sente-se que a vitória do Benfica no campeonato não foi apenas sua: foi dos jogadores e foi da estrutura, incluindo o presidente. Foi uma vitória colectiva. Diz-se que Rui Vitória é humilde quando distribui os louros por outros. Mas tem de o fazer, pois toda a gente sabe que é verdade.

No futebol, como na política, há dois tipos de líderes: os que vão à frente do rebanho, escolhem o caminho e são seguidos pelas ovelhas, e os que vão no meio do rebanho, procurando manter as ovelhas unidas. Jorge Jesus é um líder do primeiro tipo, Rui Vitória é do segundo.

A importância das contratações

Tendo em conta o que fica dito, a possibilidade de o Sporting ser campeão depende muito do que Jorge Jesus conseguir. E quando digo ‘conseguir’, refiro-me às mudanças estruturais que quer impor e aos jogadores que quer contratar.

É preciso notar que, desde que chegou a Alvalade, Jesus já contribuiu para uma mudança de paradigma. O Sporting tinha por norma ir buscar os jogadores à Academia para suprir as necessidades da equipa principal ou os buracos que se abriam. Mas Jesus, quando chegou, disse a Bruno de Carvalho: “Ou mudamos a estratégia ou nem daqui a 50 anos o Sporting será campeão”. E, para isso, foi buscar jogadores estrangeiros como Schelotto, Aquilani, Barcos, Bruno César, Teo Gutiérrez e Bryan Ruiz. É verdade que nem todos se afirmaram. Mas é também indesmentível que, comparativamente à época passada, a equipa do Sporting mostrou outra maturidade. 

Fala-se agora das possíveis saídas de Slimani, João Mário, William Carvalho, mesmo Adrien e Patrício. Se isto se confirmar, a estrutura criada na época que findou desmorona-se. Será preciso recomeçar do princípio. É claro que, se Jesus montou uma equipa em tempo recorde há um ano, também o poderá fazer agora. Mas isso depende dos jogadores que vierem e do modo como se encaixem nas ideias do treinador. Se Jesus conseguir jogadores que se encaixem bem no 4x4x2 que preconiza, muito dificilmente o Sporting não será campeão.

Equipas de Jesus são mais trabalhadas

No campeonato passado disse-se que o Sporting foi a equipa que jogou melhor e que, nessa medida, merecia ser campeão. E, na verdade, o Sporting foi superior ao Benfica em vários aspectos: um futebol mais envolvente, mais trabalhado, mais bonito. Mas não é menos verdade que este Benfica de Rui Vitória também mostrou algumas virtudes em relação ao Benfica de Jorge Jesus.

E aí distingo maior simplicidade de processos – a bola chega mais depressa aos avançados – e maior capacidade para gerir os resultados. Jesus parecia só saber jogar ao ataque. Quando queria gerir o jogo, a coisa muitas vezes dava para o torto. A equipa tinha uma vertigem ofensiva e desposicionava-se com mais facilidade. Ora, este Benfica de Rui Vitória raramente se desposiciona. Não me lembro de a defesa do Benfica ter sido apanhada em contrapé.

Tudo somado, penso que Jorge Jesus, com mais ou menos jogadores novos, fará um campeonato idêntico ao anterior. Melhor pontuação será difícil. E, se assim for, tudo dependerá do Benfica. Conseguirá o Benfica repetir a incrível performance desta época, em que conseguiu 25 vitórias nos últimos 26 jogos do campeonato? Será quase impossível. Até porque o ‘efeito Jesus’ esgotou-se esta época. Vários jogadores encarnados que quiseram mostrar a Jesus que poderiam ser campeões sem ele estão na porta de saída. A possibilidade de o Sporting chegar ao título é, portanto, elevada. Mas, já agora, também é preciso ver como contará para estas contas o FC Porto. Se continuará na sua apagada e vil tristeza ou se ressuscitará, voltando a entrar na luta pelo título. E aí tudo poderá ser diferente.