Prazo de validade até às autárquicas? Bruxelas nem dá tanto…

Carlos César, líder parlamentar do PS e zelador-mor pela durabilidade da ‘geringonça’ , afirmava há dias, numa entrevista, com sobranceria condescendente: “O Presidente tem um estilo próprio, expansivo e muito detalhado na forma como acompanha a atividade política e governativa. Essa gestão especialmente expansiva acontece para o melhor e para o pior. Até agora foi…

Teve azar. Marcelo, entretanto, aconselhou o Governo a pensar em “rever as previsões económicas” irrealistas face à queda das exportações, lançou uma farpa muito amiga a António Costa qualificando-o de “otimista crónico e às vezes ligeiramente irritante”, para acabar a impor um prazo ao Governo do PS: “O Presidente não vai dar um passo sequer para provocar instabilidade neste ciclo que vai até às autárquicas. Depois, logo veremos”. Ou seja, Costa, César e a ‘geringonça’ têm até outubro de 2017 para mostrar o que valem. Nessa altura, face ao resultado das eleições e ao berbicacho do Orçamento para 2018, se verá se conseguem ou não aguentar-se nas cadeiras do poder.

Mas se César, o mais cinzentão dos apparatchiks de Costa, foi pouco feliz no timing e no tom em que falou do Presidente, também lhe saiu pela culatra uma outra declaração dessa entrevista, em estilo bloquista radical: “O Governo não se rende perante o argumentário tradicional com que a Comissão Europeia tem tratado os problemas do défice, da dívida e da consolidação orçamental”. A verdade é que, com os feriados a subir, o horário de trabalho e o IVA a descer, vai crescendo em Bruxelas a irritação e a desconfiança dos parceiros europeus.

Logo a seguir a esta inconsequente fanfarronice paroquial, o socialista e presidente do Eurogrupo, Dijsselbloem, avisou Portugal que “o Orçamento deve voltar ao caminho certo”. E o amigo pessoal de Costa e ministro das Finanças alemão, Schäuble, veio pedir “sanções já” a Portugal e Espanha.

Se Marcelo dá um prazo até às autárquicas de 2017, Bruxelas ameaça tirar o tapete ao Governo de António Costa ainda este ano. Caso a execução orçamental e o défice de 2016 derrapem ainda mais. Carlos César bem pode falar grosso e espernear. De pouco lhe vale.

jal@sol.pt