O FC Porto pode ressuscitar?

Há três anos, quando Paulo Fonseca foi despedido, era evidente que a hegemonia do FC Porto estava a chegar ao fim e que Pinto da Costa se arriscava a sair pela porta pequena. Isto mesmo não o digo hoje — escrevi-o na altura. E foi também por temer isso que o todo-poderoso presidente do Porto…

Agora, três anos passados, a realidade está à vista. O FC Porto já perdeu a hegemonia do futebol português, que foi recuperada pelo Benfica. E, a seguir ao Benfica, já nem sequer vem o Porto: vem o Sporting.

A situação de Pinto da Costa é desesperada. Ele era reconhecido como um grande senhor do futebol mundial e os treinadores com ele tinham uma garantia: podiam dormir descansados. Eram raríssimos os casos em que, ao longo de 30 anos, um treinador fora despedido. Ora, de um momento para o outro, o FC Porto teve 5 treinadores em três anos: Paulo Fonseca, Luís Castro, Julen Lopetegui, Rui Barros e José Peseiro. Cinco! Isto era inconcebível poder acontecer no Porto.

Ressuscitar com Espírito Santo?

Portanto, a questão do FC Porto não é recuperar o título, não é voltar a ganhar – é ressuscitar. E como Pinto da Costa já não tem energia para produzir esse milagre, ele tem de ser obra do… Espírito Santo. E isto porque Jesus não quis ir viver para o Norte.

Ao contrário do que se tem dito, acho que Espírito Santo é uma boa escolha para treinar no Dragão. Não se trata de ser mais ou menos portista, embora ter o ADN do Porto possa ser importante neste momento crucial. Mas, além disso, Espírito Santo tem ‘nervo’ – e o nervo dos treinadores transmite-se às equipas. Isso é evidente no Atlético de Madrid de Simeone, no Sevilha de Emery, nas equipas de Jesus, ou mesmo nas de Pedro Martins, a outro nível.

A personalidade do treinador reflecte-se nas equipas que treina.

Reconstruir o plantel?

Também se tem dito que o FC Porto precisa de reconstruir a equipa. Estou em total desacordo. Estes mesmos jogadores já fizeram óptimas exibições. O Porto tem excelentes laterais: Maxi Pereira e Layún. Tem muito bons médios: Danilo, Herrera, André André, Sérgio Oliveira, Ruben Neves, Evandro. Tem magníficos extremos: Brahimi, Corona, Varela. Tem dois bons avançados centro: André Silva e Aboubakar (sem falar em Suk).

Qual é o problema do Porto? É o centro da defesa. E isso também porque mandaram embora Maicon, que era o melhor defesa central do clube. Mas Marcano e Martins Indy não são propriamente coxos…

E já agora pergunto: a equipa portista que foi campeã europeia só tinha génios?  Maniche, Derley, Paulo Ferreira, Costinha eram jogadores do outro mundo ou jogadores banais (como se viu nos clubes para onde foram)?

O problema do FC Porto não são as individualidades, é o colectivo. Quando o colectivo não funciona, os jogadores não rendem. Honestamente, acho que o Porto tinha, à partida, o melhor plantel das equipas portuguesas. Só que o colectivo não funcionou. Daí que o problema do treinador seja absolutamente crucial.

E, neste aspecto, acredito em Espírito Santo (e não só por razões milagreiras). Ele fez um bom trabalho no Rio Ave. As grandes dúvidas situam-se no seu trabalho em Valência. Que Espírito Santo vamos ter no Porto: o que ficou em 4º lugar no campeonato espanhol, logo a seguir aos três grandes — Barcelona, Real Madrid e Atlético Madrid –, ou o que descarrilou completamente no 2º ano? Na resposta a esta pergunta está a chave para todas as apostas.

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