Literatura: A intimidade das ideias

Vasco Araújo diz: “O mundo é feito de coisas invisíveis que quando se mostram são extraordinárias. A arte é como se fosse uma flecha que nos atiram, para nos provocar uma direção, no sentido da observação excessiva de um objecto”. A prova da afirmação é feita com sucesso em Para Grandes Solidões, Magníficos Espelhos, livro…

numa permuta muito pouco comum entre artistas ou intelectuais portugueses, porque delicada e generosa e não competitiva ou exibicionista, duas (depois três) sensibilidades agudíssimas e muito bem apetrechadas partilham experiências e memórias pessoais e perspectivas sobre a arte e a vida.

através da proximidade conquistada entre os autores, abre-se também para o leitor uma janela imediata e original sobre a prática clínica e a criação artística. vasco araújo, na sua consistente carreira internacional tem usado diversos dispositivos e suportes (escultura, instalação, fotografia, performance, sobretudo vídeo) para desenvolver um discurso e uma poética muito singulares. a reflexão conjunta sobre algumas das suas obras ocupa uma boa parte do diálogo com carmo sousa lima, mas também nestes casos o atractivo maior é o fluxo muito livre de ideias, impressões, memórias e associações.

acompanhamos de uma hipótese teórica inovadora e das histórias, quase contos, da infância ou da experiência clínica da psicanalista às reflexões conceptuais do artista e ao posicionamento dos três intervenientes perante a estética. para grandes solidões, magníficos espelhos desenvolve-se como um espaço de fluente observação e conhecimento dos seres e das coisas. coisa rara hoje em dia, mostra-nos a possibilidade do encontro e da intimidade no espaço das ideias.

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