Biblioteca Nacional vai fechar salas durante meses

A Biblioteca Nacional fechará salas durante meses. A direcção criou sistemas alternativos e diz que ninguém vai sofrer. Há investigadores que se queixam de visão burocrática e má logística

paredes rasgadas, instalação de sistemas corta-fogo, um novo elevador, substituição de toda a instalação eléctrica e da canalização existentes são as obras planeadas para a torre de depósitos da biblioteca nacional de portugal (bnp). obras essas que já estão em curso e são consensualmente aceites pelos leitores.

mas são as obras de renovação e ampliação do edifício (desenhado por pardal monteiro e inaugurado em 1969) que implicam o encerramento da sala de leitura geral e da sala de leitura de reservados pelo período de dez e cinco meses, respectivamente, que estão a inquietar os investigadores. tanto mais que a data de fecho da primeira sala a encerrar foi anunciada cinco meses antes – a 8 de junho.

na altura, o bloco de esquerda questionou o ministério da cultura sobre as medidas que estariam a ser tomadas de forma a prevenir os prejuízos decorrentes do encerramento. ao mesmo tempo foi lançada uma petição em que se considera o «planeamento dos trabalhos estipulados inaceitável» e pedindo que o mesmo fosse «repensado» .

segundo os signatários, a indisponibilização dos acervos comprometerá a «viabilização de projectos em curso, muitos deles com financiamento do ministério da ciência, tecnologia e ensino superior (mctes)» .

é esse aliás um dos problemas apontados pelo historiador rui tavares: «se uma pessoa recebeu agora uma bolsa de investigação cujo assunto se centre na bnp, não vai poder fazer nada no primeiro ano de investigação. e não me parece que o mctes tenha tido grande aviso por parte da biblioteca nacional. é inacreditável» .

jorge couto, director da instituição, garante no entanto que o encerramento foi o último recurso. «foram estudadas todas as soluções. a proposta inicial da bnp era de não encerrar, com uma intervenção faseada, mas a equipa técnica argumentou pela impossibilidade» .

a socióloga maria filomena mónica e os historiadores maria fátima bonifácio e paulo silveira e sousa publicaram pouco tempo depois, a 17 de julho, uma carta aberta contra o encerramento da biblioteca e o processo de restruturação.

em resposta aos protestos, a bnp anunciou a realização de protocolos com diversas instituições e bibliotecas que deverão acolher os leitores e investigadores durante esse período. uma solução que, segundo os contestatários, não é suficiente nem responde às necessidades dos investigadores, uma vez que a bnp detém colecções únicas.

uma das questões levantadas e à qual a bnp não consegue responder é exactamente a quantidade de espécies únicas da biblioteca. «isso ninguém sabe. temos três milhões e duzentas mil obras e era preciso que todas as bibliotecas tivessem os seus catálogos em linha. isso acontece para 170 bibliotecas, mas há muitas que não os têm e seria preciso conferir obra a obra» , afirma jorge couto.

outra ferramenta que a biblioteca disponibilizou, a partir de 2 de agosto, foi um endereço de email (apoiobnp@bnportugal.pt) através do qual os investigadores podem expôr os seus projectos e datas-limite. após análise caso a caso, a bnp marcará uma entrevista individual onde serão analisadas formas de apoio. uma solução que, segundo o director, tem sido pouco requisitada.

ines.bernardo@sol.pt