Erdogan vence ‘batalha pela alma’ da Turquia

O referendo de domingo aprovou a reforma constitucional que coloca golpistas do exército no banco dos réus. Bruxelas já se pronunciou: aprova

trinta anos após o golpe militar que alcandorou o general kenan evren à presidência e consolidou o poder do exército pró-secularista, 38 milhões de turcos foram domingo às urnas aprovar a revisão constitucional proposta pelo partido do primeiro-ministro recep tayyip erdogan, que confere ao poder político maior controlo sobre a justiça e prevê o julgamento dos golpistas.

a reforma também estabelece o direito à greve e à negociação colectiva e consagra o dever de protecção de crianças, idosos, doentes e veteranos de guerra, sendo aplaudida pela comissão europeia como «um passo na direcção certa» rumo a uma eventual adesão da turquia à ue. no entanto, a oposição secular alerta para o risco de politização da justiça, sob uma «agenda islâmica» do partido akp de erdogan, que vê reforçadas a hipótese da conquista de um terceiro mandato em 2011.

analistas falam de uma «batalha pela alma do país» em curso na turquia, onde a tradição kemalista (iniciada pelo fundador da turquia moderna, kemal atatürk), pró-secular e ocidentalizante, colide com o pendor islamista, porém moderado, do akp, que tem investido tanto na aproximação aos aliados tradicionais como no reforço dos laços diplomáticos e comerciais com o médio oriente (irão incluído) e a ásia central. o mapa dos resultados do referendo evidencia uma divisão clara entre os votantes do ‘não’, concentrados na parte europeia do país e na costa mediterrânica, e os do ‘sim’, que dominam a ásia menor e a costa do mar negro.

se em anos anteriores o akp se sentava no banco dos réus, acusado de inconstitucionalidade, os resultados de domingo dão força ao movimento que quer levar a tribunal o general evren, hoje com 93 anos, pela morte de centenas de pessoas e o desaparecimento de milhares de opositores políticos.

pedro.guerreiro@sol.pt